O chapisco é o cara que faz o elo entre o bloco da alvenaria e o emboço. Já dá de primeira para entender que ele tem que ter alta resistência mecânica. Ele tem que ser bem fluido, o que exige bastante água. E se usa bastante água, há que se pôr bastante cimento para obter a tal elevada resistência. Cimento e areia grossa/média no traço 1:2. Uma lata de cimento, duas latas de areia, bastante água, tudo misturado e chapado sobre a parede numa camada fina e homogênea entre 3 a 5 mm de espessura. Temos o chapisco!
Agora, se liga na historinha que acontece quando esta lama de areia e muito cimento se espalha sobre o bloco de concreto ou cerâmico: o bloco puxa e absorve a água do chapisco; a água suja de cimento entra no bloco e inunda os seus poros e canais e quando seca forma micro estacas de cimento profundamente nele cravadas.
A outra parte do chapisco, que não entrou no bloco, fica sobrando sobre sua superfície. Mas como é muito líquido, ele se espalha totalmente sobre o bloco e a este se agarra, unificando a absorção da superfície. Esta ação de unificação da absorção que o chapisco propicia é muito importante e pouca gente a valoriza e muitas vezes a ignora.
Mas voltemos à historinha: esta lama de areia e muito cimento, espalhada sobre o bloco, com espessura entre 3 mm e 5 mm, perde água por evaporação além daquela que já perdeu por absorção e seca rápido; no outro dia, quando o pedreiro voltar a trabalhar, ela já tem, entretanto, resistência compatível e condições de suportar o peso da argamassa de emboço. Assim, o seu papel está cumprido.
Mas uma coisa você precisa entender ainda. A mistura de cimento e areia no traço 1:2, mesmo perdendo resistência por conter bastante água, resulta numa resistência elevada quando comparada com argamassa de revestimento. Quando ela perde mais água por evaporação por ser muito fina e não ter nenhum aditivo que auxilie na retenção de água, ela enfraquece, mas ainda garante ter resistência maior que a argamassa do emboço e continua mostrando quem dá as ordens!
Agora já seco, o chapisco se apresenta como um revestimento uniforme, áspero e rugoso. Coisa bruta!
Esta sua topografia acidentada, cheia de “montanhas entre 3 e 5 mm” multiplica a área de aderência da argamassa em até 3 vezes. E como foi ele próprio quem fez a penetração no bloco e uniformizou o índice de absorção da superfície, a argamassa do emboço adere de forma homogênea, por igual, e assim também secará. Tudo nos conformes…
Sabe aqueles prédios que radiografam toda a estrutura e os blocos de vedação? O primeiro erro foi o chapisco. Ele cumpriu a função de aderência, mas não uniformizou a absorção da superfície. Ele não separou com eficiência uma coisa da outra. Isso é causado por chapisco pobre em cimento. Chapisco é igual a óleo de carro: não é conduta inteligente economizar, sai caro!