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Chuvas em Milão e o rio Seveso

Os transtornos que acontecem em Milão no período de chuvas não são diferentes daqueles enfrentados pelos grandes centros urbanos brasileiros, onde temos rios que funcionam como condutos fechados e grandes volumes de escoamento superficial

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Em 2019 foi registrado em Milão, de setembro a 25 de novembro, 49 dias de chuva com 754 mm apenas no dia 21 de outubro

Este mês as notícias das chuvas que atingiram a Itália foram assunto, com destaque para a “acqua alta” em Veneza – a foto das moças com as sacolas de marca de luxo no meio da água girou o mundo. Em Milão não foi diferente e tivemos também um período muito chuvoso, como é normal nessa época do ano. No gráfico abaixo da região da Lombardia podemos ver que historicamente o período apresenta a maior altura de precipitação no ano.

Distribuição total mensal de precipitação registradas em 2017 na região da Lombardia com linhas de tendência no percentil 25, 50 e 75 de 2002 até 2015. Fonte: Arpa Lombardia

No centro urbano da cidade de Milão as chuvas intensas têm como principal impacto causar cheias no rio Seveso, que atravessa a cidade em um canal fechado – ou seja, embaixo do nível da rua, e que frequentemente em períodos de chuva acaba causando inundações. O rio que atravessa a cidade é originário no Monte Pallanza, na província de Como, e deságua em Naviglio dela Martesana próximo via Carissimi em Milão. Tem um comprimento total de cerca de 52 km. Entra no território do município de Milão, onde começa a fluir por prados cobertos por cerca de 7 km. Então, como mencionado, ele flui para o Naviglio della Martesana, que por sua vez entra Canale Redefossi, formando um sistema coberto com um comprimento de cerca de 15 km.

A bacia hidrográfica de Seveso, na entrada de Milão, tem uma área de aproximadamente 226 km², dos quais cerca de 155 km²  incluem a bacia montanhosa, bastante íngreme, quase inteiramente no território da província de Como; enquanto os 75 km² restantes  constituem a planície da bacia, que faz parte da província de Milão. Na última parte, o rio está fluindo quase horizontalmente funcionando como um canal artificial. Cerca de 100 km inclui áreas urbanizadas. Além disso, o rio capta não só as águas do que sua bacia hidrográfica natural, mas também as águas de pelo menos mais três cidades (Cinisello Balsamo, Cabiate, Meda), não diretamente conectadas a nenhum rio, mas que descarregam em Seveso.

Em 2019 foi registrado em Milão, de setembro a 25 de novembro, 49 dias de chuva com 754 mm apenas no dia 21 de outubro. O rio Seveso registrou o maior nível de água no período no dia 8 de setembro, atingindo a altura máxima de 1900 cm causando uma inundação na região próxima ao leito do rio.

Valores de precipitação máxima e nível de água máximo no Rio Severo registradas em Milão de 01 de setembro de 2019 até 25 de novembro de 2019. Fonte: Arpa Lombardia
Inundação do rio Seveso no dia 8 de setembro de 2019. Fonte: Milano Today

O período de outono é historicamente chuvoso e é completamente natural que o rio atinja níveis mais altos, porém nos últimos anos tem sido observado um número maior de inundações, ou seja, número de vezes que o rio extravasa. Sem entrar no mérito de mudanças climáticas a nível global, assunto tão em voga quanto polêmico, o aumento das inundações é um provável resultado do aumento da área urbanizada e alterações no microclima – como o fenômeno das ilhas de calor – que resultam em chuvas mais intensas. Uma das soluções propostas para o problema é a construção de um grande reservatório de detenção no parque Nord, último trecho antes de chegar em Milão onde o rio ainda transita em canal aberto, porém o projeto é alvo de grande polemicas e é atualmente bloqueado por questões legais.

Porém sabemos que apenas este reservatório não poderá evitar completamente as inundações e é necessário procurar alternativas para a gestão das águas pluviais que vão além de grandes obras. A região da Lombardia publicou em 2017 uma legislação específica (RR7-2017) com o intuito de incentivar a gestão na fonte limitando a vazão que pode ser descarregada na rede pública e exigindo a construção de reservatórios no lote. A lei especifica a necessidade de incentivar e priorizar o reuso de água da chuva e a infiltração, nessa ordem, sem, no entanto, exigir ações especificas neste tema.  Além disso o regulamento deve ser aplicado em novas construções e grandes reformas tendo assim um impacto limitado em um centro urbano já construído. Seria necessário dessa forma executar medidas também nas áreas públicas, como vemos na figura abaixo um exemplo de como uma área teoricamente permeável acaba não tendo uma função de infiltração e acúmulo de água durante um evento de chuva.

Inundação no rio Seveso em Milão abaixo do nível do canteiro da avenida. Fonte: Milano Today

Os transtornos que acontecem em Milão no período de chuvas não são diferentes daqueles enfrentados pelos grandes centros urbanos brasileiros, onde temos rios que funcionam como condutos fechados e grandes volumes de escoamento superficial. A execução de grandes obras é muitas vezes necessária, mas no cenário atual é cada vez mais importante dar prioridade a pequenas intervenções através dos sistemas urbanos de drenagem sustentável (SUDS) com oportunidades de tratamento e biodiversidade incluindo estes sistemas nas políticas públicas de manejo de águas pluviais.


Quem quiser saber mais sobre o rio Seveso pode baixar este artigo.

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