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Cidades precisam mudar estratégia para lidar com águas

Médias históricas de precipitação já não servem para planejar drenagem; impermeabilização, canalização de rios e piscinões fazem parte do problema, não da solução

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Em São Paulo, por exemplo, há 17 grandes intervenções em andamento, mas 14 estão atrasadas. O prefeito Bruno Covas (PSDB), cuja administração está no poder há três anos, culpa a gestão de Fernando Haddad (PT).

Por Mar­ce­lo Lei­te, Folha de São Paulo. São Pau­lo, de­pois de Be­lo Ho­ri­zon­te e uma cen­te­na de mu­ni­cí­pi­os mineiros, flu­mi­nen­ses e ca­pi­xa­bas, além do Rei­no Uni­do e boa par­te da Eu­ro­pa Oci­den­tal, es­tão de­bai­xo d’água.

A pe­nín­su­la an­tár­ti­ca re­gis­trou 18,3°C po­si­ti­vos, re­cor­de de tem­pe­ra­tu­ra. A Aus­trá­lia es­tá em cha­mas. O des­ma­ta­men­to da flo­res­ta amazô­ni­ca do­brou em ja­nei­ro.

Já se tor­na oci­o­so re­pe­tir que os de­sas­tres se en­cai­xam à per­fei­ção nas pre­di­ções dos cli­ma­to­lo­gis­tas quan­to a even­tos ex­tre­mos de­cor­ren­tes do aque­ci­men­to glo­bal tur­bi­na­do pe­lo homem.

En­tre­tan­to, os re­fra­tá­ri­os ao ób­vio e os já con­ven­ci­dos so­frem to­dos as mes­mas con­sequên­ci­as. Não fal­tam ra­zões pa­ra que se unam em co­brar do po­der pú­bli­co ações mais con­se­quen­tes.

Em São Pau­lo, por exem­plo, há 17 gran­des in­ter­ven­ções em an­da­men­to, mas 14 es­tão atra­sa­das. O pre­fei­to Bruno Co­vas (PSDB), cu­ja ad­mi­nis­tra­ção es­tá no po­der há três anos, cul­pa a ges­tão de Fernando Had­dad (PT).

Acu­sa os pe­tis­tas de ini­ci­ar obras sem pro­je­to exe­cu­ti­vo. O PT diz que é men­ti­ra. En­quan­to is­so, pau­lis­ta­nos se afun­dam em águas fé­ti­das, car­ros boi­am co­mo jo­gue­tes, mi­lhões de ho­ras de tra­ba­lho se per­dem.

Co­vas, Do­ria e Had­dad vão tam­bém cul­par São Pe­dro? Res­mun­ga­rão que cho­veu de­mais, co­mo nun­ca an­tes, à mo­da do pre­fei­to de BH e do go­ver­na­dor de Mi­nas?

Pois os pro­ble­mas são pre­ci­sa­men­te es­ses dois: cai­rão chu­vas ca­da vez mais in­ten­sas, co­mo avi­sam há dé­ca­das pes­qui­sa­do­res do cli­ma.

Pre­do­mi­nam dois ti­pos bá­si­co de in­ter­ven­ção: ca­na­li­zar cór­re­gos e ri­os e cons­truir pis­ci­nões. Fun­da­men­tam-se, am­bos, na pre­ten­são equi­vo­ca­da de do­mar as águas, con­fi­nan­do-as em for­ta­le­zas de con­cre­to até que se­jam des­pe­ja­das no ca­nal prin­ci­pal, ri­os co­mo o Ti­e­tê e o Pi­nhei­ros pau­lis­ta­nos.

Am­bos se inun­da­ram nes­ta se­gun­da. Qu­an­do is­so acon­te­ce, in­ver­te-se o flu­xo das águas re­ti­das em tu­bu­la­ções, que sa­em pe­los bu­ei­ros e bo­cas de lo­bo.

Uma das ra­zões es­tá nos pro­je­tos, que se ba­sei­am em es­ti­ma­ti­vas das ocor­rên­ci­as má­xi­mas no pas­sa­do. Ora, caí­ram so­bre São Pau­lo 100 mm em me­nos de 24 ho­ras, cer­ca de um ter­ço do que cho­veu em fe­ve­rei­ro em 2019. Em ou­tras pa­la­vras, mé­di­as não ser­vem mais pa­ra pla­ne­jar a dre­na­gem.

Uma das ra­zões es­tá nos pro­je­tos, que se ba­sei­am em es­ti­ma­ti­vas das ocor­rên­ci­as má­xi­mas no pas­sa­do. Ora, caí­ram so­bre São Pau­lo 100 mm em me­nos de 24 ho­ras, cer­ca de um ter­ço do que cho­veu em fe­ve­rei­ro em 2019. Em ou­tras pa­la­vras, mé­di­as não ser­vem mais pa­ra pla­ne­jar a dre­na­gem.

Es­tá na ho­ra de re­ver os pres­su­pos­tos e cha­mar urbanistas, cli­ma­to­lo­gis­tas e am­bi­en­ta­lis­tas pa­ra a me­sa de dis­cus­são. Em lu­gar de cons­truir mais pis­tas nas mar­gi­nais, au­men­tan­do a im­per­me­a­bi­li­za­ção do so­lo, que tal de­vol­ver as áre­as de vár­zea pa­ra os ri­os e pa­rar de apri­si­o­ná-los com ci­men­to?

Em­prei­tei­ros e mo­to­ris­tas fi­ca­rão des­con­ten­tes com a mu­dan­ça de men­ta­li­da­de. A al­ter­na­ti­va pa­ra eles —pa­ra to­dos nós— é se­guir apri­si­o­na­dos den­tro de car­ros, emi­tin­do ga­ses do efeito es­tu­fa, pra­gue­jan­do con­tra o trân­si­to e os céus, tor­cen­do pa­ra não ser ar­ras­ta­do na en­xur­ra­da.

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