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Construção lidera geração de vagas, mas tem salários piores

Em um ano, número de trabalhadores do setor aumentou 19,6%, mas renda caiu 14,8%, diz IBGE

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Entre o segundo trimestre de 2020 e igual intervalo de 2021, o grupo de empregados sem carteira assinada, na economia como um todo, teve alta de 16% —de 8,6 milhões para 10 milhões. Nos empregados com carteira (30,2 milhões), houve relativa estabilidade, com variação positiva de 0,1%.

Leonardo Vieceli, Folha de S. Paulo. Em um ano, a construção engatou retomada no mercado de trabalho, com aumento de 19,6% na população ocupada no país. A renda média dos trabalhadores do setor, contudo, caiu 14,8% no mesmo intervalo, mostram dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).

Na visão de analistas, os indicadores com resultados opostos refletem, principalmente, a volta ao mercado de profissionais informais.

De um lado, o retorno desses trabalhadores, que sofreram mais na fase inicial da pandemia, acaba aumentando a população ocupada. O efeito colateral é o recuo no rendimento médio, já que os salários deles tendem a ser inferiores.

No segundo trimestre de 2020, período em que a Covid-19 causou uma série de restrições à economia, o número de trabalhadores ocupados na construção foi de 5,3 milhões.

Com a alta de 19,6%, o grupo chegou a 6,4 milhões no segundo trimestre de 2021. Ou seja, em um ano, houve acréscimo de cerca de 1 milhão de pessoas, embora o contingente ainda siga em nível inferior ao do pré-crise.

A alta de 19,6%, em termos relativos, é a maior entre as dez atividades contempladas pela Pnad. A pesquisa é feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No sentido contrário, o rendimento médio habitual dos trabalhadores ocupados na construção caiu, em termos reais, de R$ 2.087 para R$ 1.778 entre o segundo trimestre de 2020 e igual intervalo deste ano.

A marca de R$ 1.778 é a menor da série histórica, com dados desde 2012. A retração de 14,8% é a maior entre as dez atividades pesquisadas pelo IBGE.

Adriana Beringuy, analista da pesquisa do IBGE, explica que o setor da construção contempla desde o mercado imobiliário e grandes obras de infraestrutura até pequenas reformas em casas e apartamentos.

Ela ressalta que o aumento da população ocupada tem sido acompanhado pelo reingresso de trabalhadores informais no mercado de trabalho, o que acaba reduzindo o rendimento médio.

“Tivemos muitos relatos de pessoas fazendo obras ou pequenas reformas em casa. A construção, de alguma forma, vem conseguindo repor seu quantitativo de trabalhadores. Mas, agora, há um conjunto de trabalhadores com salários mais baixos”, diz Adriana.

Os dados da Pnad não chegam a detalhar se os ocupados de cada setor da economia atuam com ou sem carteira assinada ou CNPJ. Mas, em números gerais, é possível medir a retomada de postos informais no Brasil.

Entre o segundo trimestre de 2020 e igual intervalo de 2021, o grupo de empregados sem carteira assinada, na economia como um todo, teve alta de 16% —de 8,6 milhões para 10 milhões. Nos empregados com carteira (30,2 milhões), houve relativa estabilidade, com variação positiva de 0,1%.

Já o número de trabalhadores por conta própria sem CNPJ, na economia como um todo, teve alta de 17,1% no mesmo período —de 16,3 milhões para 19,1 milhões. Enquanto isso, o grupo por conta própria com CNPJ registrou avanço menor, de 7,3%. Passou de 5,4 milhões para 5,8 milhões.

“A gente atribui isso [aumento na população ocupada com queda no rendimento] à informalidade. Os informais sofreram mais quando a pandemia chegou. Agora, estão retomando”, analisa a economista Ieda Vasconcelos, da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).

Ieda acrescenta que, no mercado formal, a construção também registrou melhora no emprego durante a pandemia. De janeiro a julho deste ano, o setor acumula saldo positivo de 208,3 mil vagas geradas com carteira, conforme os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério da Economia. O resultado representa a diferença entre contratações e demissões nas empresas do ramo.

Das dez atividades que aparecem na Pnad, nove tiveram alta na população ocupada entre o segundo trimestre de 2020 e igual intervalo de 2021.

Depois da construção, a segunda maior elevação foi verificada pela agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura. Nesse setor, a população ocupada subiu 11,8%, ao pular de 8 milhões para 8,9 milhões.

A única atividade com variação negativa no número de trabalhadores foi administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais. Houve baixa de 1,4%, e o número de ocupados passou de 16,8 milhões para 16,6 milhões.

Quando o assunto é rendimento médio habitual, apenas uma das dez atividades teve variação positiva entre o segundo trimestre de 2020 e igual intervalo de 2021.

Trata-se do setor de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas. O rendimento médio habitual nesse ramo subiu 1%, de R$ 3.574 para R$ 3.611.

“No segundo trimestre do ano passado, muita gente ficou desempregada, mas boa parte dos trabalhadores com maior qualificação conseguiu ficar no mercado, o que fez a renda média subir na época. Agora, é o oposto: a renda vai para baixo”, frisa o economista Daniel Duque, pesquisador do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).​ ​

“Com a vacinação contra a Covid-19, a ocupação vai aumentar, mas pressionada por salários menores e inflação mais alta. Isso afeta o poder de compra da população. Ainda há um grande contingente de trabalhadores a ser incorporado pelo mercado de trabalho”, completa.

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