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Construção prevê perdas com possível liberação do FGTS

Para a indústria da construção, o fundo representa a garantia do patrimônio do trabalhador e gera oportunidades para novos postos de trabalho formais

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Bianca Alves, Diário do Comércio. O governo acena com a liberação de R$ 30 bilhões do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para 40 milhões de trabalhadores que têm saldo nas contas do fundo e que serão autorizados a sacar até R$ 1.000,00. Esta foi uma das propostas do governo federal para aquecer a economia anunciada pelo ministro Paulo Guedes.

Se confirmada a nova rodada, será a terceira vez que o governo Bolsonaro liberará saques extraordinários dos recursos do FGTS. A primeira foi em 2019, com o saque imediato, e a segunda em 2020, como recurso emergencial durante a pandemia da Covid-19.

“O Fundo de Garantia é o posto Ypiranga do Paulo Guedes. Como é um fundo privado que tem dinheiro, toda vez que precisa, o governo parte para cima dele”, critica o presidente da Câmara da Indústria da Construção Civil da Fiemg, Geraldo Linhares.

“Esses recursos não vão girar a economia. O beneficiado não vai comprar fogão, vai pagar o que está devendo, e, na maioria das vezes, é o banco, o que só alimenta o setor financeiro. Na construção civil, você vai movimentar 97 setores de uma cadeia que começa no transporte dos trabalhadores para a obra e termina na entrega das chaves”, afirma Linhares, à frente de uma câmara que reúne sindicatos patronais e fornecedores da indústria da construção, Copasa, Crea, SME, entre seus 30 integrantes.

Sua desaprovação se junta à de vários representantes do segmento da construção civil, que tem no FGTS sua principal fonte de financiamento, e que reagiram veementemente contra o plano do governo. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (Cbic) mandou carta ao Ministério da Economia para alertar sobre as consequências caso um novo saque do FGTS seja aprovado.

Para a indústria da construção, o fundo representa a garantia do patrimônio do trabalhador e gera oportunidades para novos postos de trabalho formais. Além disso, contribui para tornar as cidades mais seguras e salubres por participar da expansão da infraestrutura no País, permitindo acesso à moradia digna aos cidadãos.

Segundo o presidente da Cbic, José Carlos Martins, o FGTS não deve ser percebido como complemento de renda. “É funding para investimentos, é geração de bem-estar, emprego e renda para a população”, enfatizou.

De acordo com ele, é criada uma falsa impressão de que o saque irá ajudar na economia. “Não é verdade. Fizemos em outros momentos análise posterior e o pequeno ganho que traz é muito inferior ao que perdemos. Perde-se o emprego gerado na contratação de habitações e saneamento”, ressaltou.

O Sinduscon-MG apoia o posicionamento da câmara. “O FGTS foi criado para financiar habitação, infraestrutura e saneamento, e isso tem uma lógica”, aponta o presidente do sindicato, Renato Michel. Ele conta que tais recursos se destinam em especial a habitações mais econômicas, como as dos programas habitacionais do governo.

Elas são financiadas principalmente pelos recursos de quem não saca o fundo, porque essas pessoas têm empregos mais estáveis e bem remunerados. “Ou seja, é um processo Robin Hood, pelo qual quem tem mais saldo financia a casa própria de quem mais precisa”, define Michel.

“A construção de um novo lar gera muito mais do que benefícios econômicos: gera bem-estar social, e isso tem um valor incalculável. Não se pode desviar os recursos do FGTS dessa finalidade”, critica, com veemência, o presidente do Sinduscon-MG.

“O volume é limitado e menos pessoas vão poder sacar para financiar sua casa própria”, diz Michel. Para ele, não tem sentido destinar aos bancos, que são os credores da maioria das dívidas a serem pagas, recursos que criam empregos de longo prazo, em obras que podem durar dois ou três anos. O setor calcula que, a cada R$1 bilhão de investimento em habitação, gera-se cerca de 24 mil empregos. Nos últimos dois anos, em plena pandemia, a construção civil criou 500 mil dos atuais 2,5 milhões de empregos no setor. “Mas nós já tivemos 3 milhões, ou seja, temos muita estrada para andar. Se o dinheiro for desviado para o consumo, vai beneficiar  a indústria da China e não a economia brasileira”, finaliza o dirigente.

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