“Não preste atenção ao homem atrás da cortina!” – Essa célebre frase cunhada em 1939 por L. Frank Baum em “O Mágico de Oz” é dita pelo próprio falso mágico à Dorothy, quando a mesma, inicialmente vigorosa crente nos poderes mágicos do Senhor de Oz, descobre o pequeno homem comum atrás das cortinas, que manipulando truques através de recursos tecnológicos a induzia a crer que se tratava de poderes sobrenaturais.
Mas, o que a famosa frase de “O Mágico de Oz” tem a ver com simulações computacionais de desempenho?
Permita-me explicar: Seja para prever o consumo energético de uma edificação, o movimento do ar, a temperatura de um espaço ou níveis de iluminação natural, programas de simulação computacional fazem parte de um repertório absolutamente necessário no âmbito da arquitetura de alto desempenho ambiental. Softwares dessa natureza auxiliam projetistas a prever através de testes e comparações paramétricas o futuro desempenho de edificações durante a etapa de concepção. A esse processo dá-se o nome de Evidence Based Design. Programas como IES VE, Design Builder, Sefaira, Radiance e Energy Plus fazem parte desse repertório.
Quando operados por profissionais capacitados na teoria das ciências da Física da Edificação (ou Building Physics: ciência que estuda as trocas de calor, energia, iluminação e ventos do meio externo com o ambiente construído) esses softwares podem nos fornecer resultados bastante próximos do que se espera que aconteça na realidade. Mas programas de simulação computacional quando operados por profissionais não qualificados nessas ciências, irão resultar em outputs altamente imprecisos, resultando em decisões erradas de projeto. O máximo que se obtém em casos como esse são belas imagens coloridas que ajudam a ilustrar extensos relatórios e que em geral custam um bom dinheiro ao contratante.
E como adoramos essas imagens coloridas, não? Está aí o “homem atrás da cortina”.
É pelo fascínio por belas imagens coloridas que explico o sucesso de cursos que ensinam a manipulação de tais softwares, sem fornecer ou informar ao aluno da importância de conhecimentos prévios nas bases teóricas de Building Physics.
Aprender a operar um software de simulação computacional não é difícil, qualquer que seja o programa. O treinamento do aluno deve ser primariamente nas bases teóricas da ciência a qual o software em questão se propõe a analisar.
É como utilizar o Microsoft Word: manipular a ferramenta é fácil, mas para fazê-lo com precisão precisamos primeiro aprender a escrever.
Em um curso que se propõe a ensinar um software de simulação excluindo de seu conteúdo programático ou dos pré-requisitos mínimos para ingresso, as bases teóricas a qual o software em questão se propõe a analisar, o que se está vendendo é pura mágica. E dessa forma o aluno se torna “o homem atrás da cortina”. Além de desperdiçar o dinheiro investido, o que tenho ouvido muito de profissionais que procuram ingressar nesse mercado.
Repare nos termos U-value, R-value, Emissivity, SHGC, Thermal Conductivity, Visual Light Transmitance, Predicted Mean Vote (PMV), Percentage of People Dissatisfied (PPD), Diagrama psicrométrico, diagrama estereográfico (entre muitos outros). Se esses termos são novos à você não seja o “homem atrás da cortina”. Evite cursos dessa natureza até que se familiarize com as bases teóricas das ciências as quais eles se propõem a analisar.
Uma excelente forma de iniciar é o livro “Eficiência Energética na Arquitetura” do renomado Prof. Roberto Lamberts da UFSC.
Considero que é indicado para quem deseja iniciar os estudos nas áreas relacionadas ao conforto ambiental e eficiência energética na arquitetura e foi um dos primeiros a que eu tive acesso quando iniciei meus estudos nessas áreas há 13 anos atrás.