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O que podemos esperar da impressora 3D para a construção de edifícios?

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impressao 3D

Esse é um assunto recorrente que tenho sido solicitado a falar em debates e em palestras e que, em parte, tenho frustrado as expectativas de plateias ávidas por abordagens mais “digital-fashion”. Por diversas notícias e filmes de experimentos mostrados nas redes sociais, a impressão 3D de casas e prédios já é considerada “certa” como um processo construtivo que será amplamente usado nos próximos anos. Pensam que basta esperar um pouco e todos os problemas de falta de produtividade e qualidade na construção serão resolvidas adquirindo essas formidáveis máquinas. Tenho discutido tentando mostrar que a realidade possível para os próximos 10 a 20 anos é provavelmente bem diferente e que precisamos encarar a industrialização da construção como um processo muito mais completo e mais próximo do que entendemos a industrialização do setor automotivo atual.

Para começar, um edifício é um conjunto de tecnologias distintas e complexas que precisam ser aplicadas e coexistirem em espaços comuns como paredes, pisos, coberturas, etc. O fato de coexistirem praticamente no mesmo espaço enseja uma simultaneidade de montagem, caso seja feito por uma mesma máquina. Um edifício, seja uma simples casa ou um arranha céu, é uma soma de sistemas com componentes e materiais totalmente diversos, que durante sua montagem interferem entre si.

Uma impressora 3D até então tem a característica de trabalhar com materiais “homogêneos” e pós-endurecidos. Esse tipo de material é mais fácil de ser usado em paredes verticais maciças. As armaduras de aço, típicas em concreto estrutural, poderiam ser substituídas por fibras misturadas na massa não endurecida conformada pela impressora, mas a colocação simultânea de eletrodutos, tubulação de água e esgoto ficaria extremamente difícil. Imprimir diretamente lajes e vigas no local com material mole é também praticamente impossível. Precisariam moldados a parte e montados com guindastes em cada pavimento após o endurecimento das paredes. Esse processo ficaria ainda mais complexo em edifícios altos, com muitos andares.

Edifícios e casas demandariam impressoras 3D de grandes dimensões e peso, montadas com precisão em canteiros de topografia e solo de todo tipo, além de expostas constantemente a intempéries. Talvez os riscos e o tempo necessário para montar e remontar impressoras desse porte tomem um tempo e um custo muito grande, além de problemas logísticos e de acesso, reduzindo em muito os casos em que poderiam ser economicamente aplicados.

Dessa forma, mesmo com um grande desenvolvimento dessa tecnologia, o uso de impressoras 3D não será naturalmente destinado à fabricação de edifícios diretamente, mas para imprimir alguns (talvez muitos) dos seus componentes. Esses componentes pré-fabricados e endurecidos seriam então montados e unidos na sua construção. Provavelmente sistemas prediais seriam inseridos e conectados depois, assim como portas e janelas. As peças “imprimíveis” poderiam representar algo como 50 a 60% do “volume” da construção, mas fabricados em industrias de pré-moldados, transportados e depois montados em canteiros com o uso de mão de obra especializada. A impressão 3D também seria muito útil na fabricação de moldes para concreto, bem como na fase de projeto, para estudo de construtibilidade de modelos. Os chineses têm tido excelentes experiências nesse sentido, tendo montado um edifício de quase 60 pavimentos em menos de um mês.

O uso da Revolução Digital pode ajudar bastante o setor de construção imobiliária, principalmente na fase de projeto, comercialização e controle de qualidade. Mas na construção em si, se não mudarmos nossos métodos artesanais para processos industrializados a seco, essa revolução poderá nos ajudar muito pouco. Tenho insistido que a industrialização da construção é uma necessidade premente para viabilizar setor e que já temos toda a tecnologia disponível no Brasil. Mas infelizmente, não a usamos… Ficamos perdendo um tempo precioso esperando soluções “fashion” – que não acontecerão tão cedo – em vez de arregaçarmos as mangas e discutirmos de forma objetiva e prática a integração das diversas tecnologias industrializadas já disponíveis. Na minha opinião, precisamos analisar essas tecnologias, suas interferências e complementariedades, com o uso de engenharia e da gestão. Precisamos transformar nossa cadeia de suprimentos (empresas do setor) numa real cadeia de valor. Temos um potencial de multiplicar nossa produtividade por 5 a 10 vezes aumentando muito nossa viabilidade econômica setorial e não precisamos esperar milagres tecnológicos para que isso aconteça. O investimento é nas pessoas e em seus cérebros.

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