Sempre fui apaixonado por carros antigos, ao ponto de ter chegado a ser colecionador de algumas unidades restauradas por mim ao longo de anos, com enorme esmero. Contudo, pouco pude curtir os carros que restaurei, porque acabei trocando por outros veículos, me desfazendo por não ter tempo para me dedicar à restauração ou por ter optado investir em outros negócios.
Sou grato por ter uma vida profissional bem-sucedida e muito rica em experiências das quais sempre extraí significativos aprendizados. Apesar disso, mudanças de rota repentinas e não planejadas aconteceram ao longo da minha trajetória, justamente quando as empresas que tive a oportunidade de dirigir entraram na fase de forte geração de resultados, em consequência de reestruturação e implementação da estratégia planejada.
Minha mulher, certo dia, me surpreendeu com uma questão: “Você não percebe que sua vida profissional tem sido análoga ao seu trabalho de restauração dos carros?”
Fiquei intrigado com isso e, de fato, algumas vezes mal tive o prazer de dirigir os carros que restaurei… Cheguei a comprar somente uma carcaça e a parte inferior do motor – que sofreu um pequeno incêndio, com danos nas peças móveis – de um carro pelo qual sempre fui apaixonado. Empenhei quase 8 anos para conseguir restaurar o veículo. Aqui vale um parênteses… Assim como no trabalho, na restauração também sou criterioso e detalhista. Bem, o resultado foi excepcional, entretanto, logo na primeira volta com o carro depois do restauro, visitando a loja de um amigo, acabei não resistindo à tentação de trocá-lo por outro!
O paralelo
Minha vida profissional de cerca de 20 anos dedicados à indústria de materiais de construção e 13 anos a serviços de engenharia, construção e incorporação em empresas brasileiras e multinacionais, não foi diferente.
Muitas vezes eu encontrava a empresa como a carcaça que comprei, faltando partes relevantes da “lataria”, com “conjunto mecânico” incompleto, além de “eixos, suspensão e sistema de direção” com peças retorcidas.
É enorme a energia dispendida em cada diagnóstico, reestruturação, contratação, capacitação, desenvolvimento e retenção de uma equipe competente. Assim também é a implementação de um planejamento estratégico suficientemente bom para promover o turnaround. Gente competente trabalhando na direção correta, com processos estruturados e bons controles, sempre geram resultados iguais ou melhores do que os planejados!
Mas, como no caso dos carros, logo após o turnaround, exatamente na hora de experimentar o gostinho de dirigir uma relíquia em perfeita ordem, potente e bem restaurada, por vezes e por razões distintas, me encontrava diante do desafio de ter outro carro para restaurar!
Claro que permaneço ansioso para dar uma volta ao mundo com um carro que restaurei com tanto cuidado! Confesso que mantenho grande expectativa para me sentar e pilotar uma joia dessas. Porém, depois de mais de três décadas, a conclusão que cheguei é que sou um bom mecânico!!!
Obs.: as imagens acima do título deste artigo são de um Porsche 911S Targa 1968 que restaurei, a partir de uma carcaça e do bloco do motor, conforme mencionado no artigo. Lamentavelmente não tenho uma boa foto do carro após a conclusão do trabalho. Portanto, a foto inferior, à direita da sequência, é de um modelo idêntico, da mesma cor, ano 1976, também restaurado por mim.
