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A questão da produtividade e os caminhos para a industrialização da construção

Com o aumento das taxas de juros, da inflação e a redução do poder de compra da população, a urgência por ganhos de produtividade passou a ser ainda mais vital para a construção

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  1. INTRODUÇÃO

No Brasil, há décadas debatemos a questão da industrialização da construção. Seja por oscilações e crises econômicas ou ainda pela descontinuidade de programas estruturados na esfera federal, estadual e municipal, a industrialização da construção brasileira não evoluiu. Barreiras de diversas naturezas, que ainda persistem, também foram impeditivas para possibilitar o avanço da construção industrializada. O setor de construção vem perdendo produtividade, sendo que, na última década essas perdas se acentuaram. Com o aumento das taxas de juros, da inflação e a redução do poder de compra da população, a urgência por ganhos de produtividade passou a ser ainda mais vital. Neste momento, sequer estamos vivendo um boom e há falta de mão de obra direta nos canteiros de obra. A verdade é que esta mão de obra que migrou da construção para outros setores, como a indústria e o agrobusiness, não retornará mais. Sendo assim, os esforços do setor e do governo federal se concentram na disseminação e implantação de medidas voltadas para a industrialização da construção brasileira. Este artigo trata da questão da competitividade e dos caminhos para a industrialização.

  • CONTEXTO SETORIAL E A PRODUTIVIDADE

Os vestígios mais antigos de construções de tijolos registrados pela história datam de 7.500 a.C., na região de Anatólia, na Turquia e foram descobertos a partir de escavações arqueológicas (Brickarchitecture, 2017). Trata-se de tijolos de adobe. A utilização de tijolos cozidos é menos remota e ocorreu no Oriente Médio, cerca de 3.000 anos antes do nascimento de Cristo. Naquela época, os tijolos foram uma inovação tecnológica importante, oferecendo proteção e construções duráveis ao homem, quando o mesmo deixou de ser nômade. A disseminação do uso de tijolos na Europa e na Ásia aconteceu mais tarde, em torno de 1.200 a.C (The brick directory, 2010).

Figura 1 – Construções de tijolos de adobe, em site arqueológico na região de Anatólia, na Turquia

Não se discute a robustez, nem o conforto termo-acústico característicos das construções de tijolos, mas vivemos um momento delicado no setor de construção, que exige ganhos expressivos de produtividade. O uso do tijolo como unidade de construção tem sido cada vez mais questionado, sobretudo pelo avanço tecnológico e a consequente oferta de componentes resistentes, duráveis e bem mais leves, que permitem a execução de painéis de vedação com maior velocidade e facilidade de instalação. A atividade de execução de alvenaria com tijolos ou blocos, em plena 4ª Revolução Industrial, transfere para o setor de construção a imagem de “um grande artesanato construtivo”.

Figura 2 – Assentamento de alvenaria, caracterizando a construção como um “grande artesanato construtivo”

Nas últimas décadas, a indústria soube explorar muito bem o impacto da digitalização e das inovações aplicadas aos processos, produtos e à produtividade. O setor de construção é gigante e tem uma importância social e econômica proporcional ao seu porte. Produz um PIB de US$ 10 trilhões por ano (13% do PIB global), emprega 7% da população mundial, consome 50% das matérias primas produzidas e é responsável por cerca de 25% a 40% do total de emissões de carbono (McKinsey, 2017). Apesar disso, pouco evoluiu…

Como exemplo, de 1947 a 2010, a produtividade nos setores de manufatura, varejo e agricultura nos EUA cresceu 1.500%, conforme mostrado na Figura 3.

Figura 3 – Produtividade nos EUA, de 1947 a 2010: Valor bruto adicionado por hora (McKinsey, 2017)

Enquanto a produtividade na indústria decolou, no setor de construção ela permaneceu estagnada. As grandes consultorias globais (Big Four) e o Fórum Econômico Mundial têm feito críticas ácidas à construção, que tem “empurrado para baixo” a produtividade global. A cobrança da qual temos sido alvos é para “pararmos de atrapalhar e começarmos a ajudar…”

Além de vergonhosa, uma questão como essa passa a ser ainda mais preocupante quando analisamos o crescimento da demanda. A população mundial aumenta cerca de 200.000 pessoas por dia, nos grandes centros urbanos (World Economic Forum, 2016). Este crescimento não é resultante somente do aumento da natalidade. Ele é, sobretudo, proveniente da migração das zonas rurais para as principais cidades. E todo este contingente humano precisa de infraestrutura para habitação, social, de transporte, saúde, educação e de serviços públicos. Analisando a particularidade do Brasil, no que tange à necessidade de habitação de interesse social (HIS), em um relatório produzido pelo Prof. Robson Gonçalves, da FGV, para a ABRAINC, utilizando dados do IBGE, o déficit habitacional de 2019, de 7,8 milhões de unidades, foi projetado para 30,7 milhões de unidades para 2030! Ou seja, o setor de construção tem tido baixa velocidade de resposta para equacionar um problema desta magnitude e a solução não reside em métodos tradicionais de construção.

A 14ª edição do Construbusiness, relatório bianual da FIESP, publicada em 2021, mostra uma realidade alarmante. O PIB do setor de construção caiu de 12,9% em 2014 para 8,6% em 2021. Há grande preocupação com esta queda, uma vez que nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, considera-se que a construção é responsável, em média, por 13% do PIB. Tendo este número como referência procurou-se avaliar a possibilidade do setor voltar a atingir este percentual médio, nos próximos 10 anos. Lamentavelmente isso não será possível, uma vez que, se ocorresse, faltariam recursos para a educação, saúde, transportes, etc. Projetou-se, então a meta de 10,1% do PIB da construção, até 2030, como um percentual possível de ser atingido e que ainda é bom para o setor se manter robusto e gerando riqueza.

Figura 4 – PIB da construção, como % do PIB brasileiro (14º Construbusiness – FIESP, 2021)

Neste mesmo relatório, cabe destacar que a produtividade no setor caiu em média 4,4% ao ano entre 2014 e 2019 e registrou mais uma queda média de 6,1% ao ano, entre 2019 e 2021. Ou seja, sobretudo num momento de aumento da inflação e da taxa de juros e, concomitantemente, da redução do poder de compra da população, isso é absolutamente insustentável!

Com base nestas constatações o 14º Construbusiness recomenda, como solução, a adoção da construção industrializada, que agrega valor ao setor, reduz o tempo de execução das obras e eleva a produtividade. O referido relatório também destaca que a industrialização da construção no Brasil ainda é incipiente e encontra barreiras tributárias elevadas. Feitas estas considerações o Construbusiness 2021 aponta os 10 principais benefícios da industrialização, extraídos de um relatório produzido pela ABRAMAT, ABCIC e CBCA:

  1. Redução de prazos de execução de obras devido à maior produtividade, melhor planejamento e nível de controle, evitando retrabalho e eliminação das interrupções devidas às condições climáticas;
  2. Maior controle de custos e maior previsibilidade, devido ao planejamento detalhado e ao melhor controle durante a execução, minimizando a demanda por aditivos contratuais;
  3. Elevado nível de controle da qualidade, proporcionado pela produção em ambiente de fábrica;
  4. Menor desperdício de materiais, devido ao planejamento prévio e precisão na execução;
  5. Maior sustentabilidade, devido ao uso racional de recursos; à redução do transporte de materiais e de resíduos; à redução de impactos de ruído e de poluição no canteiro; e à facilidade de reciclagem e reutilização, ao final do ciclo de vida do empreendimento;
  6. Boas condições para os trabalhadores, pela oferta de empregos qualificados na produção em fábricas e pela melhoria da organização, limpeza e segurança nos canteiros de obras;
  7. Eficiência e flexibilidade para adaptações, ampliações e reformas de obras existentes de edificações e de infraestrutura, sem necessidade de interrupção da operação das mesmas, durante a execução.
  8. Flexibilidade para a elaboração de projetos arrojados e de expressão arquitetônica marcante;
  9. Compatibilidade com outros sistemas construtivos, permitindo a combinação de   diferentes tecnologias, para atender a requisitos de arquitetura, de desempenho e de sustentabilidade;
  10. Uso de tecnologias avançadas de produção, com aplicação de BIM e de ferramentas da Indústria 4.0.

O Construbusiness 2021 informa ainda a contratação de consultorias para:

  • Efetuar o planejamento estratégico para a difusão da construção industrializada no Brasil;
  • Elaborar estudos para propor:
  • A equalização tributária na cadeia da construção civil;
  • Desenvolver novos modelos de financiamento para a construção industrializada;
  • Efetuar alterações na lei de licitações nº 8.666/93;
  • Trabalhar a comunicação e a disseminação da industrialização da construção.

Como uma outra iniciativa fundamental para acelerar a construção off-site e modular, em abril de 2022 foi lançado pelo Governo Federal o Projeto “Construa Brasil”. Este Projeto define como objetivo a melhora do ambiente de negócios do setor da construção, incentivando as empresas a se modernizarem, estabelecendo metas para:

  1. Convergência dos Códigos de Obras e Edificações (COE);
  2. Melhoria do processo de concessão de alvarás para construção;
  3. Difundir o BIM e seus benefícios;
  4. Apoiar ações de estruturação do setor público para a adoção do BIM;
  5. Criar condições favoráveis para o investimento público e privado em BIM;
  6. Estimular o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias relacionadas ao BIM;
  7. Identificar e adequar o regulamento técnico para incentivo à coordenação modular;
  8. Incentivo à construção industrializada.

Outras atividades pró-industrialização relevantes em andamento têm sido conduzidas por:

  • Movimento Brasil Viável (www.brasilviavel.com.br): com realização do C3 – Clube da Construção Civil e do CTE/Enredes e coordenado pelo autor. Trata-se de um movimento para impulsionar a industrialização da construção no Brasil, que está trabalhando fortemente para a eliminação das barreiras e gargalos que impedem o avanço da industrialização;
  • Aliança Construção Modular: formada pelo ecossistema de inovação da USP, que tem como objetivos:
    • Desenvolver o mercado da construção modular no Brasil
    • Identificar e vencer desafios;
    • Promover a integração da cadeia de valor;
  • Rede da Construção Digital, Industrializada e Sustentável (RCDI+S), do Centro de Tecnologia das Edificações (CTE/Enredes), que é um ecossistema de relacionamento setorial, que conecta os principais agentes da cadeia produtiva aos 4 pilares que direcionam a construção do futuro:
    • Inovação;
    • Transformação digital;
    • Industrialização;
    • Sustentabilidade.

O propósito da RCDI+S é Impulsionar o movimento de inovação, transformação digital, industrialização e sustentabilidade no setor da construção.

Em 11/08/2022, o SindusCon-SP e a AsBEA-SP realizaram um simpósio para a “Industrialização de Edifícios Residenciais”. O autor apresentou uma palestra na abertura da pauta técnica do 1º Painel, falando sobre “Contexto, Tributação, Cenário Político e Econômico e Caminhos para a Industrialização. Neste mesmo painel, também palestraram representantes do Movimento Brasil Viável, da Aliança Construção Modular e do Projeto Construa Brasil. É importante registrar que foi nítido o alinhamento e a convergência de todas as palestras. Como conclusão deste evento, que foi um marco para a industrialização da construção no Brasil, existe um claro sentimento de urgência para o rápido avanço da industrialização da construção, além da consciência de que não se trata mais de uma opção e sim de uma solução vinculada à sobrevivência do setor, que precisa gerar ganhos vorazes de produtividade. Precisamos produzir muito mais com menos recursos!

Contudo, há vários gargalos que impedem maior velocidade na evolução da industrialização (As Barreiras para o Brasil Viável. OLIVEIRA, 2021), sendo os principais deles:

  • A falta de modelos de financiamento e crédito imobiliário, para produtos da construção industrializada, sobretudo, voltados para a produção;
  • A questão tributária, que passa pela necessidade de uma ampla reforma tributária e ainda a inexistência de isonomia entre a construção tradicional e a construção industrializada, que entrega produtos de forma muito mais rápida, com melhor qualidade e desempenho e é penalizada pagando muito mais tributos do que a construção tradicional, o que não faz o menor sentido.

Sobre a questão tributária, a Figura 5 demonstra que o Brasil possui a quarta maior alíquota de impostos sobre a renda das empresas (34%), dentre os 108 países avaliados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD). Questões como esta precisam ser discutidas e alteradas. Estes assuntos podem ser melhor compreendidos no website do Movimento Brasil Viável.

Figura 5 – Alíquota de impostos sobre a renda das empresas – OECD – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (2021)
  • CAMINHOS PARA A INDUSTRIALIZAÇÃO

Como ganhos substanciais de produtividade são urgentes e essenciais para o setor de construção e isso está diretamente relacionado à industrialização, vale a pena entender o que tem acontecido no mundo todo, onde investimentos substanciais têm sido feitos em startups de construção modular, por indústrias fabricantes de materiais de construção, por construtoras, incorporadoras e fundos de venture capital (Fusões e Aquisições no Ecossistema de Construção Modular. Oliveira, 2022).

Estes investimentos têm gerado a aceleração de operações tradicionais no caminho da industrialização e levado a inovações tecnológicas relevantes, sobretudo ao longo dos últimos 5 anos. Segundo o relatório Inside Venture Capital, da Distrito, plataforma de inovação aberta, de janeiro a novembro de 2021 foram injetados US$ 8,85 bilhões de capital externo em startups brasileiras. Este volume é quase 3 vezes superior ao investimento realizado em 2020, ou US$ 3,65 bilhões. Além das muitas vantagens e benefícios sobre a construção tradicional, este forte crescimento dos investimentos em startups e em empresas estruturadas de construção modular mostram a razão deste segmento ter dobrado de tamanho entre 2014 e 2018 e da projeção de um crescimento médio de 6,5% ao ano até 2025, taxa essa que é superior ao dobro da construção tradicional (Markets&Markets, 2019).

Apesar disso uma questão que tem intrigado o setor de construção em nosso país. Não se discute mais a urgência de industrializar a construção, mas sim: como industrializar e por onde começar? Certamente a forma mais eficaz de produzir uma edificação industrializada é já conceber o produto, desde o início como um produto industrializado. Por outro lado, para uma construtora ou incorporadora que atua com métodos de construção tradicionais, um movimento deste tipo representaria, na visão da alta gestão, um grande risco. Como então resolver isso?

Inicialmente, vale a pena analisarmos como tem sido trilhado o caminho para a construção off-site e modular no mundo. A evolução é gradual e acontece em etapas, como se estivéssemos subindo degraus de uma escada, conforme apresentado na Figura 6.

Figura 6 – Etapas de evolução da construção industrializada para a construção off-site e modular (Oliveira, 2022)

A primeira etapa deste processo não é a industrialização, mas sim a utilização de metodologias e ferramentas para a racionalização da construção tradicional. A partir desta etapa, são introduzidos componentes de construção off-site. Na próxima etapa, além destes componentes, inserem-se módulos. Na última etapa, a construtora e/ou incorporadora atuará totalmente na construção modular, ou fortemente na construção modular, com componentes fabricados off-site. Esta movimentação não costuma acontecer de forma espontânea. Conforme ilustrado na Figura 7, a pressão feita pelas incorporadoras, construtoras e investidores faz com que, por um lado, fabricantes de materiais, de componentes industrializados e de módulos, façam uso da tecnologia e inovação, e por outro, projetistas e consultores trabalhem na busca de soluções eficazes para que esta evolução demostrada na Figura 6 aconteça. No último estágio de evolução, novos agentes passam a atuar na cadeia de valor, ou seja: empresas montadoras e, finalmente as alianças de fabricantes de módulos e de componentes de construção off-site. Com isso, o máximo grau de especialização acontecerá na cadeia, havendo empresas fabricantes, por exemplo, de fachadas industrializadas, outras, de módulos, outras de kits de instalações prediais, de tal forma que uma edificação inteira será fabricada e montada por empresas diferentes, sob a integração e gestão de uma construtora ou incorporadora, assim como ocorre nas montadoras de automóveis.

Figura 7 – Pressões e movimentação dos agentes da cadeia de valor, rumo à construção off-site e modular (Oliveira, 2022)

Obs.: no Brasil os clientes ainda não pressionam muito e têm seguido as tendências ditadas pelo mercado imobiliário. Por este motivo, os clientes estão representados “de lado”, na figura. Este é um ponto que merece muita atenção do setor. Este comportamento mudará quando avançarmos mais em direção à Indústria 4.0 e a centralidade no cliente se fizer prevalecer. A partir deste momento, as expectativas e as necessidades dos mesmos passarão a definir as tendências.

  • UMA PLATAFORMA PARA INSERIR CONSTRUTORAS E INCORPORADORAS NA CONSTRUÇÃO OFF-SITE E MODULAR

Como a busca pela inserção de construtoras e incorporadoras na construção off-site e modular é crescente e tem como objetivo gerar ganhos substanciais de produtividade, com consequente redução de custo, a partir de estudos do autor, a ARATAU Construção Modular desenvolveu uma metodologia, através de um trabalho de Pré-construção e de modelagem BIM, para permitir a realização desta jornada, de forma gradual e com baixo risco para as construtoras e incorporadoras.

A Pré-construção é a forma mais ágil e econômica de se chegar a qualquer produto de engenharia pretendido, a partir da análise de riscos, antecipando as incertezas e reduzindo os riscos de projeto. Com a Pré-construção garante-se também a construtibilidade e minimiza-se as mudanças de projeto. Segundo o PMBOK do Project Management Institute (PMI), as mudanças sempre vêm acompanhadas de aumentos de custo e de prazo e por essa razão nunca são bem-vindas pelos clientes a não ser aquelas solicitadas por eles. Emprega-se nesta metodologia ferramentas poderosas, como: Lean Construction, Engenharia Simultânea, Engenharia e Análise do Valor (EAV) e ainda, Target Costing. Havendo prazo suficiente para o desenvolvimento de um bom trabalho de Pré-construção, com estas ferramentas é possível reverter a ordem, de tal forma que se parte do custo pretendido – que precisa ser factível – para, a partir dele, desenvolvermos as soluções de engenharia e o projeto. Ou seja, o custo do produto passa a não ser mais consequência do projeto. O projeto é desenvolvido para atender a meta de custo definida. Se isso não acontecer, “voltamos para a prancheta” para repensarmos e avaliarmos outros caminhos e soluções para que o custo meta seja então atendido.

A metodologia desenvolvida pela ARATAU permite estudar o projeto de uma edificação vertical tradicional, decompondo-o em sistemas construtivos: estrutura (chassi estrutural), vedações externas, vedações internas, sistemas prediais (kits hidráulicos e elétricos), além de módulos 3D e 2D (banheiros prontos, cozinhas, painéis hidráulicos, módulos de escada e de caixas de elevador, por exemplo), conforme a Figura 8.

Figura 8 – Sistemas construtivos industrializados considerados no trabalho de Pré-construção e de modelagem BIM (ARATAU, 2022)

Estuda-se cada sistema construtivo de forma individual, considerando as alterativas para a substituição do mesmo por sistemas construtivos industrializados, apontando-se em uma matriz de decisão, para cada um deles, as reduções de custo e de prazo, bem como os benefícios da migração para estes sistemas industrializados. Uma chave é iniciar o estudo pelas vedações externas e internas. A adoção de sistemas de vedações externas (fachadas) e internas leves industrializados gerarão uma redução substancial de massa em edificações verticais, o que, como consequência, já implica em uma racionalização e redução do custo da estrutura e da fundação da edificação. Esta análise deve ser sempre sistêmica, entendendo os benefícios para a edificação, como um todo. Para cada sistema construtivo analisado, realiza-se também um estudo de logística e suprimento, de forma a serem lançadas informações sobre disponibilidade de componentes, lead-time, transporte, armazenamento, içamento e montagem, no canteiro de obras.

A matriz de decisão apresentará, portanto, os benefícios no que tange à redução de custo e de prazo resultantes da adoção de cada sistema construtivo estudado. Por exemplo, no caso de uma vedação externa industrializada em estudo, mesmo que o custo da mesma seja um pouco superior ao da vedação em alvenaria tradicional, a menor massa, conforme já mencionado, gerará custos menores da estrutura e da fundação. Vamos supor, que no prédio em estudo ocorra uma redução de 60 dias do prazo total da obra. Estes 2 meses a menos impactará na redução das despesas diretas e do histograma da obra e ainda das despesas indiretas (equipe de gestão da obra). Todos estes custos são então computados, para entendermos o benefício total. Outras vantagens, também apontadas poderiam ser: aumento da segurança, maior controle e previsibilidade de custos e prazos e ainda, a possibilidade de iniciar a vedação externa de baixo para cima, trabalhando nos serviços de vedações internas, revestimentos e acabamentos com o pavimento estanque, o que, por sua vez, também gerará aumento da produtividade, com impacto na redução do prazo e do custo total da obra.

De posse desta matriz de decisão, a construtora ou incorporadora poderá definir quais são as suas prioridades e por onde quer iniciar. Através desta metodologia, uma incorporadora ou construtora poderá, por exemplo, optar em iniciar uma próxima obra adotando apenas um sistema leve industrializado de vedação externa. Depois de duas ou três obras executadas com este sistema construtivo, e uma vez dominado o mesmo, essa incorporadora ou construtora poderá optar em adicionar, numa próxima obra, um outro sistema construtivo industrializado, como por exemplo, a estrutura. Assim, gradualmente e com baixo risco, em cerca de dois anos e meio a três anos estará operando exclusivamente na construção modular e off-site, com exceção dos serviços preliminares, movimentação de terra, infraestrutura, drenagem, contenções e fundações. De qualquer forma, estes serviços poderão ser executados enquanto os componentes de construção off-site e os módulos estão sendo fabricados, ganhando-se ainda tempo por conta da execução simultânea destas atividades.

Um vídeo de curta duração desta plataforma inteligente desenvolvida pela ARATAU para ingresso gradual na construção off-site e modular pode ser visualizado através do link:  https://bit.ly/35XKIrO.

Vale destacar que esta metodologia está sendo aplicada pela RCDI+S num projeto de inovação, usando como base um projeto já executado com metodologias convencionais de construção por uma incorporadora e construtora renomada. Em novembro de 2022 deveremos ter os resultados deste estudo, feito de forma colaborativa e integrada, por várias empresas da cadeia de valor participantes da rede.

Como forma a apoiar a implementação deste processo em futuros projetos, o autor entende ser relevante a adoção de um sistema computacional de controle e gestão da produção, para garantir o cumprimento do cronograma e dos custos planejados.

Um exemplo de aplicação desta metodologia é no desenvolvimento, pela ARATAU, de um banheiro pronto para atender um empreendimento do projeto Casa Verde e Amarela, com demanda para milhares de unidades deste item. A Pré-construção, com uso de modelagem BIM, desempenhada por equipe de projeto experiente e bem coordenada, gerou uma solução em que o chassi estrutural do módulo, utilizando perfis galvanizados leves e perfis de LSF engenheirados, possui uma massa de somente 118kg. Isso foi possível a partir da decisão da ARATAU de desenvolver um exoesqueleto para o içamento, transporte e movimentação horizontal dos módulos. Nesta solução inovadora, só o exoesqueleto é solicitado, permitindo a racionalização da estrutura do módulo. Este exoesqueleto retornará para a fábrica para ser utilizado para o futuro transporte e içamento de outros módulos.

Figura 9 – Estrutura racionalizada de banheiro pronto, com chassi metálico híbrido (a) e exoesqueleto (b) (ARATAU, 2022)
  • CONCLUSÕES

Num momento em que o setor de construção busca ganhos substanciais de produtividade, não faz mais sentido a adoção de métodos de construção que utilizam unidades pequenas ou processos artesanais, como alvenaria de tijolos e de blocos.

Há maturidade setorial e urgência para a industrialização da construção, não mais como uma opção, mas como uma solução para a redução e previsibilidade de custos e prazos, de forma a atender o crescimento da demanda de infraestrutura social, habitacional, de educação, saúde e transportes, sobretudo nos grandes centros urbanos, crescimento este que não tem sido atendido pela construção tradicional.

Neste artigo abordou-se a questão da produtividade, os caminhos para a industrialização, bem como uma metodologia para a inserção gradual de construtoras e incorporadoras na construção industrializada, com baixo risco.

A forte evolução da construção off-site e modular no mundo todo e também, mais recentemente no Brasil, apontam um caminho seguro para o futuro da construção. Há barreiras a serem superadas, mas a experiência de outros países que já passaram por isso, mostra que esta é uma jornada necessária inserindo, definitivamente, a construção na era digital, em direção à Construção 4.0.

REFERÊNCIAS

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OLIVEIRA, P. et al. Fast Construction: Como Racionalizar e Trabalhar Simultaneamente Todas as Etapas do Processo Construtivo. 2019.  Disponível em: <https://www.arataumodular.com/app/2022/06/03/fast-construction-como-racionalizar-e-trabalhar-simultaneamente-todas-as-etapas-do-processo-construtivo/>Acesso em: 20 set. 2022.

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