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Patologia em estruturas de concreto

As deformações das estruturas de concreto devem estar dentro dos limites de norma, caso necessária, prever contra flecha e indicar em projeto de formas

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Para que se dimensione as estruturas de concreto adequadamente também é necessária a definição das ações atuantes e das combinações mais desfavoráveis. Os softwares auxiliam muito nessa parte, porém, uma análise crítica e experiente é imprescindível para a assertividade.

Não é de hoje que associamos as partes da edificação com o corpo humano. Podemos entender as estruturas de concreto de um edifício como o esqueleto humano. De forma análoga, os cômodos de uma edificação como os nossos órgãos, os sistemas circulatório e neurológico como as instalações hidráulica e elétrica e as manifestações patológicas podem ser associadas às doenças. No todo, pode-se associar a Medicina Diagnóstica com a Engenharia Diagnóstica. E ainda o médico especialista com o engenheiro patologista.

Iniciando pela fundação, as manifestações patológicas podem ocorrer por fatores diversos. As fases de início também podem variar. Podemos dividir as fases de início em:

●             Caracterização do comportamento do solo;

●             Ausência ou falha de investigação do solo;

●             Análise e projeto das fundações;

●             Execução das fundações;

●             Eventos após a construção das fundações e

●             Deterioração dos materiais constituintes das fundações.

É de suma importância que o tipo de fundação a ser utilizado seja definido por um especialista em geotecnia. Solos colapsíveis e expansíveis muitas vezes são difíceis de serem detectados e podem causar sérios danos às edificações.

O rebaixamento do lençol freático também pode ser uma das causas da alteração do comportamento do solo. De forma análoga a presença de água não prevista pode ser causadora de futuros recalques da fundação.

O projeto de fundações por sua vez deve apresentar cotas de assentamento, comprimento previsto das estacas, tensão admissível no solo e a capacidade de carga das estacas.

Em fundações rasas é importante que seja levado em consideração o bulbo de tensões abaixo da cota de apoio das mesas. Havendo intersecção entre dois bulbos, o solo pode ser solicitado por uma tensão maior que sua capacidade e causar recalques expressivos nas fundações. Esta atenção é extensiva para fundações de edificações vizinhas pré-existentes e para fundações em níveis distintos.

Estacas executadas em solo mole podem sofrer o efeito de segunda ordem. Ao se deformarem lateralmente pela falta de apoio do solo, por ser mole, a carga que inicialmente era centrada passa a ser excêntrica causando esforços de momento fletor, não previsto em projeto. A figura a seguir mostra essa condição.

FIG.: Efeitos de segunda ordem em estacas esbeltas em solos moles. Fonte: Velloso e Lopes, 2010.

O efeito de Tschebotarioff considera empuxo lateral nas estacas, o qual também vai causar momento fletor podendo levar à ruína da estaca. Esse efeito foi o causador da queda de um edifício em Xangai, em 2009, conforme apresentado na figura abaixo. Ao ser executada uma escavação ao lado da edificação construída, a água do lençol freático causou empuxo lateral ao se deslocar pelo solo.

FIG.: Queda de edifício em Xangai em consequência do efeito de Tschebotarioff. Fonte: Blog do PET Civil.

Tratando de estruturas de concreto, as principais causas e origens das anomalias são: falhas na concepção do projeto; má qualidade dos materiais; falhas na execução; utilização para fins diferentes dos calculados em projeto e falta de manutenção no decorrer do tempo.

A concepção do projeto é um dos pontos de maior importância para um bom desempenho estrutural. Muitas vezes é necessário avaliar mais de um modelo de estrutura para que se chegue a melhor solução, tendo em vista, fatores econômicos, sem abrir mão da segurança e estabilidade.

Para que se dimensione as estruturas de concreto adequadamente também é necessária a definição das ações atuantes e das combinações mais desfavoráveis. Os softwares auxiliam muito nessa parte, porém, uma análise crítica e experiente é imprescindível para a assertividade.

Em projeto deve-se determinar o cobrimento e a relação água/cimento compatíveis um com outro, caso contrário a armadura poderá sofrer oxidação. Além disso, o projeto deve contemplar o módulo de elasticidade do concreto, coeficiente de Poison, resistência característica à compressão, fck e tipo do aço.

As deformações das estruturas de concreto devem estar dentro dos limites de norma, caso necessária, prever contra flecha e indicar em projeto de formas.

A compatibilização multidisciplinar de projetos deve ser feita a fim de se evitar furação nas estruturas após concretadas. A demolição parcial ou mesmo a execução de furos depois da estrutura pronta ponde causar danos que enfraquecerão a peça estrutural.

A manutenção preventiva também um fator importantíssimo para que a estrutura mantenha um bom desempenho durante toda sua vida útil. Sempre que necessária deve ser feita a manutenção corretiva, esta é executada sempre que detectado um problema estrutural. De modo geral a manutenção corretiva é mais cara e mais difícil de ser executada que a preventiva.

As boas práticas de engenharia sempre devem ser respeitadas e profissionais habilitados e competentes devem acompanhar todo o processo.

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Cristiana Furlan Caporrino é Engenheira Civil pelo Instituto Mauá de Tecnologia, Mestre em Engenharia de Estruturas pela Universidade de São Paulo (USP) e atualmente doutoranda na mesma área e instituição. Sócia-diretora da Furlan Engenharia e Arquitetura, empresa especializada em projetos e obras. Professora de pós-graduação no Instituto Mauá de Tecnologia, nas disciplinas Gerência de Projetos de Engenharia e Logística de Canteiros de Obras, e, na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), das disciplinas de graduação Concreto Armado II, Concreto Protendido e Alvenaria Estrutural e da disciplina de pós-graduação Patologias em Alvenarias e Revestimentos Argamassados. Na pós-graduação da Funorte, ministra as disciplinas Estruturas Metálicas I e II e Análise de Estruturas de Concreto por meio de Software. Autora do Livro Patologia em Alvenarias, 2ª Edição, Editora Oficina de Textos. Administra um blog acadêmico no qual divulga novas tecnologias, além de discutir temas teóricos de várias áreas da engenharia. Ministra palestras e cursos, perita judicial e possui vasta experiência em projetos estruturais, tendo participado de projetos de barragens, indústrias, refinarias de petróleo, hospitais e empreendimentos corporativos, além de projetos em mineração, aviação civil, comércio e infraestrutura.

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