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Construção civil salva indústria em 2022, mas deve desacelerar este ano

Espera-se forte desaceleração, sob impacto maior da política monetária, que deve pesar nos empreendimentos destinados para média e alta rendas

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Marta Watanabe, Valor Econômico – Em 2022 a construção civil salvou novamente o desempenho do PIB da indústria, com alta de 6,9% contra 2021, mesmo com desaceleração ao fim do ano. Para 2023 espera-se forte desaceleração, sob impacto maior da política monetária, que deve pesar nos empreendimentos destinados para média e alta rendas. Apesar da perda de fôlego, parte da expectativa para a continuidade do crescimento do setor, mesmo em meio a um cenário de desaceleração do PIB, está na retomada do Minha Casa Minha Vida, que pode voltar a dar protagonismo à habitação de interesse social dentro do mercado de edificações, embora seu efeito maior possa vir mais em 2024.

Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre), diz que a projeção é de que setor de construção cresça 2,4% em 2023.

O crescimento da atividade na construção do ano passado, diz Ana Maria, reflete o ciclo vigoroso do setor de períodos anteriores em que avançaram os lançamentos imobiliários e os investimentos em infraestrutura, com os leilões de concessão.

Mesmo com aperto da política monetária no decorrer de 2022, ressalta, o setor cresceu no ano passado dando continuidade a ciclos do mercado imobiliário abertos ao fim de 2020 e em 2021, favorecidos então por taxas de juros mais baixas e também porque, considerada como atividade essencial durante a pandemia de covid-19, o setor de construção pôde manter suas atividades.

“O ciclo começou a perder fôlego no fim de 2022 e uma das grandes perguntas que se fez foi se esse ciclo continuaria a perder fôlego em 2023”, diz Ana. Segundo dados do IBGE divulgados hoje, o PIB do setor de construção caiu 0,7% no último trimestre de 2022 contra os três meses anteriores, na série com ajuste sazonal.

Dados de pesquisas do mercado de construção, lembra Ana, mostram que já houve queda nos lançamentos imobiliários em relação ao histórico recente muito alto. Ainda assim, diz, os lançamentos e as vendas se mantiveram em nível relativamente forte, o que deve repercutir na atividade em 2023, assim como a programação de investimentos da infraestrutura. O crescimento neste ano, diz, deve ser conduzido pelo mercado formal, que é o das construtoras e incorporadoras.

Na manutenção do ciclo de negócios em 2023 num ambiente de taxa de juros altas há um desafio maior para o mercado de média e alta renda, diz Ana, porque a avaliação que se faz é que o crédito vai ficar mais caro e difícil.

Por outro lado houve uma renovação do Minha Casa Minha Vida, o que traz perspectiva de a baixa renda voltar a ter uma dinâmica melhor no ciclo de negócios do mercado imobiliário, diz. “É preciso acompanhar o desenvolvimento do programa para saber o quanto vai conseguir recuperar o espaço que perdeu mais recentemente, mas há essa perspectiva de a habitação de interesse social voltar realmente a ganhar protagonismo.”

A habitação de interesse social, lembra, ganhou maior importância no mercado de edificações desde o lançamento do MCMV e chegou a representar mais da metade das vendas realizadas.

Se em 2023 o ciclo da construção civil continuasse a perder fôlego, como aconteceu ao fim de 2022, o crescimento da atividade poderia ser ameaçado. Houve um pessimismo maior dos empresários ao fim do ano passado, lembra Ana. “Mas agora a retomada do MCMV pode representar uma sustentação desse ciclo ou pelo menos não uma queda.”

As pesquisas de sondagem de confiança mostraram que a confiança dos empresários da construção vinha se deteriorando desde outubro, com aumento do pessimismo. Em fevereiro isso mostrou uma inflexão, destaca. “A confiança voltou a crescer e houve mudança das expectativas justamente do mercado de edificações, mostrando que a sinalização dada pelo governo ao programa deu um novo ânimo, com expectativa de que o ciclo de negócio volte a melhorar.”

Para Sergio Vale, economista chefe da MB Associados, o MCMV de ser um “alento” para o setor de construção civil, podendo abrir um ciclo em 2023 que deve se concretizar com efeitos para a atividade a partir do ano que vem. “Há um esforço muito grande do governo para ativar o programa, mas é um processo demorado, que deve aparecer mais a partir de 2024.

Nas suas projeções, o PIB da construção civil deve crescer 0,6% em 2023, abaixo do PIB total, estimado em alta de 1% para o ano. A construção, diz, é um setor que reage muito ao crescimento da economia, à perspectiva de médio e longo prazo, ao mercado de trabalho e ao cenário de taxa de juros. “Essas condições estão faltando para o mercado de construção este ano. No mercado de trabalho a ocupação começou a cair em termos dessazonalizados desde setembro e o crédito este ano também deve faltar comparado aos últimos dois anos.”

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