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Em seis anos, construir casa passa a custar mais que o dobro no Brasil

Dados do Sinapi mostram aumento de 57,48% no preço do m², de 2016 a 2022, levando em conta valores dos materiais de construção e da mão de obra; pandemia teve grande influência

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Os dados do Sinapi levam em consideração dois indicadores: o valor da mão de obra e dos materiais de construção – sendo este segundo o grande “vilão” da história.

Bruna Martins, Casa Vogue. Construir a casa própria, no Brasil, é um sonho que vem ficando a cada dia mais caro. Segundo dados do Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil), que é tocado em conjunto pelo IBGE e a Caixa Econômica Federal, o preço da construção do m² mais que dobrou nos últimos seis anos, passando de R$ 968,70, em janeiro de 2016, para R$ 1.525,48 em janeiro deste ano – um aumento de 57,48%.

No mesmo período, de 2016 a 2022, a inflação acumulada foi de 36,94%, o que demonstra o encarecimento da construção de forma mais elevada que o aumento dos preços em geral, no país.

Os dados do Sinapi levam em consideração dois indicadores: o valor da mão de obra e dos materiais de construção – sendo este segundo o grande “vilão” da história. Se, até 2020, o aumento do custo apenas dos materiais não passava de 6,5% (quando comparado ao ano anterior), foi em 2021 e 2022 que ele deslanchou, tendo crescimentos de 12% e 17,18%, respectivamente.

Veja abaixo a evolução dos custos estimados pelo Sinapi para a construção, por m²:

Jan/2016: R$ 968,70 (total) / R$ 518,13 (material) / R$ 450,57 (mão de obra)

Jan/2017: R$ 1.031,21 (total) / R$ 531,93 (material) / R$ 499,28 (mão de obra)

Jan/2018: R$ 1.069,61 (total) / R$ 547,70 (material) / R$ 521,91 (mão de obra)

Jan/2019: R$ 1.118,60 (total) / R$ 580,41 (material) / R$ 538,19 (mão de obra)

Jan/2020: R$ 1.162,24 (total) / R$ 609,39 (material) / R$ 552,85 (mão de obra)

Jan/2021: R$ 1.301,84 (total) / R$ 731,37 (material) / R$ 570,47 (mão de obra)

Jan/2022: R$ 1.525, 48 (total) / R$ 915,79 (material) / R$ 609,69 (mão de obra)

Impacto da pandemia

Segundo Marco Antonio Rocha, professor do Instituto de Economia da Unicamp, a pandemia teve grande influência nessas estatísticas. De 2020 para cá, as medidas restritivas causaram a escassez – e posterior encarecimento – de diversos insumos necessários para a construção civil, como estruturas pré-moldadas e de alumínio.

“Em um primeiro momento, houve certa interrupção nas linhas de produção e no transporte de alguns materiais, e o retorno não foi suficiente para atender a retomada da demanda. Além disso, há também um gargalo na logística desses insumos que está demorando a se normalizar por conta das seguidas ondas de transmissão de Covid”, explica o professor.

Dentre os problemas de logística citados estão os transtornos relacionados ao frete marítimo, ocorridos de forma geral na indústria. “O momento da interrupção das operações de embarque, formação de filas, escassez de contêineres, aumento do preço dos combustíveis e o gargalo na retomada: tudo isso gerou um encarecimento do transporte marítimo e, consequentemente, do preço que o consumidor paga pelos insumos”, diz o especialista.

E apesar desse movimento de aumento dos preços ter ocorrido em escala global, aqui, no Brasil, o impacto foi sentido de forma ainda mais profunda devido à grande desvalorização do real frente ao dólar.

Demanda recorde

Se, por um lado, a oferta de materiais de construção teve baixa, por outro, a demanda atingiu patamares recordes durante os dois últimos anos. Segundo Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE, trata-se de uma tendência global de uso em reformas e construção de imóveis daquele dinheiro que ficou represado devido à impossibilidade de realização de outras atividades, como viagens, por exemplo.

“No Brasil, ainda houve o fato de que muitas famílias direcionaram parte daquelas rendas adicionais, como as vindas de auxílios emergenciais, para as reformas e ampliações do lar”, destaca a especialista.

Todo esse cenário levou a um desarranjo no orçamento de empresas e famílias, quadro ainda mais agravado com a inflação que fechou 2021 em 10,06%. “Se em um primeiro momento as famílias conseguiram direcionar a renda extra, em um ambiente de menos despesas, com a reabertura ocorrida no ano passado o quadro tende a mudar, e a inflação subindo começa a disputar com as despesas de materiais de construção”, explica Ana Maria.

Menor impacto na mão de obra

A mão de obra também sofreu aumento em seu custo ao longo dos últimos anos, mas de forma muito mais comedida. De 2016 a 2022, o crescimento foi de 35,32%, índice abaixo da inflação acumulada no mesmo período (36,94%). Segundo Marco Antonio, a pandemia incentivou um fenômeno inverso com relação a esse indicador.

“O aumento do desemprego fez com que muitas pessoas buscassem recolocação no setor da construção civil, um movimento comum no nosso país. No entanto, quando essa migração ocorre de forma abrupta, o aumento de oferta para o setor faz com que o poder de barganha diminua bastante, gerando baixos salários. Assim, o custo da mão de obra, que de certa forma significa o rendimento desses trabalhadores, ficou achatado nesse processo”, desvenda o professor.

E 2022?

Para este ano, o cenário ainda é desafiador. Apesar de uma diminuição na demanda por reforma e construção, os contratempos causados pela variante Ômicron na produção e logística de insumos, ao redor do mundo, ainda afetam os custos da construção no Brasil. Além disso, a tendência é de que a inflação continue elevada até o fim do ano.

Por isso, Marco Antonio acredita que ainda deve haver impacto, mas de forma mais comedida: “A alta não vai ser tão forte quanto a gente viu acontecer em 2020 e 2021, mas ainda vamos ter um movimento de aumento nos preços para esse ano”.

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