Este relatório é na verdade a revisão de um documento anterior e avalia a indústria da construção atual e olhando para o futuro, de forma análoga a um processo médico, ou seja:
- Identificar os sintomas dos problemas
- Diagnosticar as causas-raiz
- Efetuar o prognóstico
- Estabelecer o plano de tratamento
- Manter a indústria da construção sob observação
Sintomas
Embora situado no contexto do Reino Unido, a leitura deste documento é mais do que recomendada já que parte de sintomas idênticos aos do contexto brasileiro, que tomo a liberdade de reproduzir na figura abaixo:
O autor afirma que a comparação com um processo médico é apropriada, já que o documento conclui que, lamentavelmente, muitas das características da indústria da construção se enquadram no mesmo contexto de uma pessoa doente ou até de um paciente moribundo.
Diagnóstico
Resumidamente, como causas-raiz, o relatório aponta que:
- A indústria da construção evoluiu de acordo com uma estrutura que busca apenas a sobrevivência e de acordo com um conjunto de comportamentos comerciais no ambiente em que opera, caracterizado por baixos níveis de capitalização, de investimento e demanda cíclica.
- A indústria da construção e seus clientes têm interesses não alinhados reforçados através de protocolos tradicionais de compra e de uma profunda resistência à mudança.
- Não existem incentivos estratégicos ou uma estrutura apropriada para superar os problemas mencionados e iniciar transformações, em grande escala, para produzir uma mudança mais profunda e abrangente.
Prognóstico
Como prognóstico, conclui-se que a indústria da construção e seu modelo de trabalho estão em um momento crítico, considerando a sua saúde a longo prazo. Portanto, é hora de revisar com seriedade as perspectivas futuras.
As conclusões e recomendações para a solução dos problemas apresentados e para a transformação e modernização da indústria da construção, não são diferentes das diretrizes que temos disseminado, quais sejam:
- Integrar a cadeia de valor, através de modelos colaborativos e projetos inteligentes, com uso de tecnologia e processos BIM, explorando ferramentas de pré-construção para buscar a máxima eficácia, qualidade, desempenho e produtividade;
- Estabelecer programas setoriais estruturados para a capacitação, desenvolvimento e retenção de mão de obra;
- Melhorar o relacionamento da cadeia de valor e entre clientes, instituições e governo, fomentando iniciativas de Pesquisa & Desenvolvimento voltadas para a industrialização, para a pré-fabricação e para a construção modular;
- Explorar a experiência do meio acadêmico, acelerando a industrialização e a inovação, incentivando o máximo uso de tecnologia nos processos de fabricação, com prioridade para programas de construção residencial, em larga escala;
- Estabelecer linhas de crédito e de financiamento para o desenvolvimento de habilidades e de sistemas de treinamento, ajustados com as necessidades que serão exigidas pelo setor, num futuro próximo, modernizado e digital;
- Desenvolver modelos de negócios e de estruturas contratuais apropriadas e alinhadas com as necessidades futuras;
- Aparelhar e preparar o governo e as instituições para compreender e se inserir em um processo holístico do “ambiente construído”, do qual a indústria da construção é parte, promovendo um programa de divulgação para as escolas, cursos profissionalizantes e universidades, apresentando a visão para o futuro do setor, a partir da indústria do estágio atual da indústria da construção;
- Acionar o governo, em todas as instâncias, para que assuma a sua responsabilidade nesta questão de forma a:
– Confirmar o seu compromisso, de forma análoga à do Reino Unido, para que o país possa ter uma base industrial forte, estratégica e competitiva na indústria da construção;
– Reconhecer o valor e a relevância setorial, intervindo através de programas de educação complementares apropriados, no planejamento e estabelecimento de políticas tributárias e de geração de emprego adequadas, para estabelecer e desenvolver as competências e habilidades críticas para o sucesso e para a competitividade da indústria da construção, no cenário futuro global;
– Estimular a inovação no setor habitacional, promovendo o uso de soluções industrializadas por meio de medidas políticas, promovendo e valorizando a expansão do uso de construções de interesse social modulares e industrializadas.
Conclusões
Apesar do contexto bastante diferente, as semelhanças são notáveis no comportamento da indústria da construção entre o Reino Unido e o Brasil, seja no diagnóstico atual ou mesmo no caminho da sua transformação, adotando diretrizes eficazes para a construção do futuro.
Há problemas sérios a serem enfrentados, que precisam ganhar relevância estratégica estrutural, na esfera do governo brasileiro, para que o próprio setor possa se modernizar e se fortalecer, uma vez reconhecida a sua relevância na composição do PIB nacional e na geração de emprego, inserindo-se definitivamente no universo digital e devolvendo ao país, através de serviços e produtos de maior qualidade e desempenho, produzidos competitivamente e de forma eficaz, que gerem, ao longo do seu ciclo de vida, menor custo de construção, uso e manutenção.
As limitações e fragilidades apontadas são um alerta importante para toda a cadeia de valor da indústria da construção e para o país. A questão merece uma reflexão profunda e um planejamento estratégico para desenharmos o futuro e um plano de ação contundente e eficaz, transformando as fragilidades, riscos e ameaças identificados em oportunidades de negócios de potencial expressivo no mercado futuro.