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Empresas fazem ‘retrofit’ de escritórios para o novo normal pós-pandemia

Áreas verdes e espaços compartilhados que facilitem a troca entre funcionários estão sendo priorizados; companhias querem atrativos para ajudar o retorno aos escritórios

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Fernanda Guimarães, O Estado de S.Paulo. Há praticamente um consenso de que o trabalho híbrido será adotado por um grande número de empresas. Como haverá dias em que o trabalho será presencial – no escritório, portanto – as companhias já começaram a preparar os ambientes para que eles sejam adequados para o “novo normal” pós-pandemia. Dentre as principais mudanças estão pontos de trabalho mais espaçados, dada a necessidade de distanciamento, e áreas de convívio social – com muito verde.  

Por trás desse engajamento das empresas em busca de escritórios mais agradáveis está também a expectativa de que, quando chegar a hora do retorno, os funcionários queiram voltar, mesmo que por alguns dias da semana  – e as companhias torcem para que isso não seja algo compulsório.

Na empresa de tecnologia Locaweb, que ocupa um prédio no Morumbi, zona sul de São Paulo, a decisão de reformar, principalmente para tirar os carpetes, já tinha sido tomada antes da pandemia. Uma dificuldade que vinha atrasando a obra era esvaziar o prédio. 

Com o home office que transformou a vida corporativa da empresa há um ano e meio, a empresa bateu o martelo e decidiu que a hora da reforma tinha chegado. No entanto, a pandemia mostrou que a obra deveria abarcar novas necessidades que surgiram diante da crise sanitária, que foram incorporadas ao projeto, comenta a diretora de gente e gestão da empresa, Simony Morais.

“Decidimos por um ambiente mais descontraído e colaborativo”, diz a executiva. O retorno ao escritório, conta, ocorrerá com bastante cautela e de acordo com o avanço da vacinação dos funcionários. A ideia é ir levando os funcionários de volta, aos poucos. “Vai demorar muito para termos o escritório cheio.” Para aqueles que conheceram o novo escritório, o retorno tem sido positivo. “Temos visto um encantamento em relação ao ambiente, um local onde eles gostam de estar”, conta.

Simony destaca que, além do trabalho híbrido ser uma realidade, a empresa vem contratando pessoas apenas para o trabalho remoto. “Vemos muito isso com os desenvolvedores, que já são um pessoal que curtia trabalhar mais sozinhos. E vemos também que algumas pessoas na pandemia mudaram o estilo de vida e se mudaram para longe do escritório”, diz.

A presidente da consultoria para o setor imobiliário Newmark, Marina Cury, afirma que muitas empresas, entre os anos de 2014 a 2018, fizeram um movimento chamado de “flight to quality” de seus escritórios, ou seja, fizeram a mudança para espaços melhores. Agora, o que se vê é uma mudança de configuração dos espaços.  

“Estão surgindo mais espaços de convivência e colaborativos. A sinergia entre as equipes é uma das grandes perdas com o trabalho 100% remoto”, avalia. Conforme a especialista, esse movimento de retrofit tem se concentrado em regiões em que o estoque de imóveis corporativos é mais antigo, caso da região da Avenida Paulista.

Um desses exemplos é do banco norte-americano Citi, que ocupa o mesmo prédio na avenida há 35 anos. De olho nas necessidades pós-pandemia, o edifício foi todo remodelado e adequado a questões de distanciamento social e à sustentabilidade, mais uma demanda da sociedade e dos próprios funcionários. Também passou a contar com espaços compartilhados, além do reforço tecnológico, em salas de reuniões abastecidas para receber os clientes. O investimento na reforma, a maior feita nas últimas três décadas, foi de R$ 150 milhões, conta Guilherme Mancin, chefe de recursos humanos da instituição financeira.

“O Citi já vinha pensando no novo modelo de trabalho há uns três anos e globalmente vinha se adaptando, a reforma do prédio veio nesse contexto”, comenta Mancin. Segundo ele, já era uma demanda por parte dos funcionários, especialmente os mais jovens, trabalhar alguns dias de casa e ter um ambiente de trabalho no escritório mais flexível – não ter uma estação de trabalho fixa e poder mudar de local dependendo da necessidade do dia, ou até do humor.

O executivo da instituição financeira diz que, apesar de o trabalho remoto ser um sucesso, os funcionários já demonstram interesse de voltar ao escritório, mesmo que em apenas alguns dias da semana. “Eles perceberam que ter um lugar para trabalhar é bom e estão sentindo falta”, comenta. E com a reforma, que será concluída no começo de dezembro, o banco promete novidades para atrair até mesmo os mais jovens de volta ao escritório.

Um dos destaques com a reforma é que o prédio ganhou uma área aberta, com um jardim externo, com área de café para convivência entre os funcionários, sala de meditação e uma miniarena para pequenas reuniões. O Citi aproveitou para reformar dois andares do prédio, que estava pensando em alugar, para suportar o crescimento previsto da subsidiária brasileira do banco norte-americano, que promete ser robusto nos próximos anos.

Segundo Mancin, ainda não há data para o retorno dos funcionários, mas a decisão será tomada sob a análise de alguns pilares: término do ciclo de imunização de uma determinada parcela da população, índice de ocupação das UTIs e número de contágios. A partir disso é que o retorno começará com 30% dos funcionários.

Mais áreas verdes e ‘hands free’

O presidente da BR Properties, que investe em imóveis comerciais, Martin Jaco, observa que uma mudança de perfil dos escritórios já vinha ocorrendo antes da pandemia, mas o processo acelerou. A demanda, segundo ele, é por escritórios mais flexíveis, com áreas para trabalho coletivo, mas com outras áreas mais privativas, quando é preciso maior concentração para a leitura de um documento ou para um telefonema, por exemplo.

Entre os destaques, segundo o executivo, estão as áreas externas dos edifícios, que estão agora sendo olhadas com atenção pelas empresas, com o pedido crescente por mais áreas verdes e jardins – e com móveis que possam servir para o trabalho na própria área externa. Outra demanda nova e crescente é pela tecnologia “hands free” (mãos livres). Um exemplo é o maior uso do reconhecimento facial para acesso dos funcionários ao edifício, influência clara da pandemia.

Prova dessa procura por esse tipo de escritório, afirma o executivo da BR Properties, é o melhor primeiro semestre em 14 anos da companhia, quando foi alugado um volume total de 88 mil metros quadrados. Jaco comenta que muitas empresas, por causa pandemia, partiram para um movimento de mudança de escritório sob a lógica do “flight to quality”. Diferentemente do movimento que ocorreu no passado, quando as empresas fizeram a mudança compelidas por preços imóveis mais atrativos, agora buscam espaços diferenciados, motivados pelas novas necessidades evidenciadas ao longo da pandemia.

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