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Número de trabalhadores na construção cresce 30% em dois anos e chega ao maior nível desde 2016

Setor foi o que teve o maior crescimento no período, mas a informalidade e o rendimento baixo reduzem os ganhos para a economia

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Ramiro Brites e Hugo Barbosa, especial para o ‘Estadão’, O Estado de S.Paulo. Depois de dois anos com lançamentos e vendas de imóveis em alta, a construção civil é uma das atividades econômicas que mais têm gerado oportunidades de trabalho no País desde a queda acentuada no número de vagas em 2020 no início da pandemia de covid-19. O número de pessoas que trabalham na construção subiu 29,8% nos últimos dois anos e foi um dos responsáveis por reduzir a taxa de desemprego no País, que chegou a 9,8% em maio.

A construção é o setor que mais cresceu em número de pessoas ocupadas entre maio de 2020 e maio de 2022. Em seguida, vêm o setor de alojamento e alimentação, com alta de 21,9% no número de pessoas ocupadas, e o de serviço doméstico (19,5%). Os grupamentos que menos ampliaram as contratações foram administração pública (1,5%), transporte (10,4%) e agricultura (10,2%). Os dados são da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad), do IBGE, divulgados na semana passada.

No total, segundo o IBGE, o Brasil tinha 7,4 milhões de pessoas trabalhando no setor de construção no trimestre encerrado em maio – bem acima dos 5,5 milhões há dois anos, quando a economia era afetada por uma onda de demissões em consequência da pandemia.

O número vem se mantendo ao redor desse patamar desde o fim do ano passado. Antes disso, a última vez que o Brasil teve essa quantidade de pessoas trabalhando na construção foi em julho de 2016. No pico da série histórica do IBGE, o Brasil chegou a ter 8,3 milhões de trabalhadores no setor no trimestre encerrado em dezembro de 2013.

Renda baixa

O crescimento no número de pessoas ocupadas na construção, porém, não acompanha uma alta nos rendimentos. A maior parte dos trabalhadores do setor é informal e tem renda menor do que aqueles contratados com carteira assinada.

O economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Leandro Horie, compara o momento atual com 2016, outro período de grande oferta de vagas no setor. “A composição era diferente. Em 2016, havia um volume maior de pessoas com carteira assinada no setor. Agora, tem uma expansão muito grande do emprego por conta própria”, diz Horie.

O rendimento médio dos trabalhadores da construção civil é de R$ 2.069, de acordo com os dados do IBGE. O valor médio para todos os segmentos é de R$ 2.613. A renda baixa  observada em todos os setores econômicos faz com que o aumento de pessoas ocupadas seja insuficiente para acelerar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o economista da empresa de consultoria LCA, Bruno Imaizumi. “O crescimento das ocupações não vêm sendo acompanhado de uma renda maior, que seja suficiente para o trabalhador pagar todas as contas. O rendimento médio se encontra em um patamar mínimo”, afirma.

De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o número de trabalhadores formais da construção civil tem crescido em ritmo menor. Na comparação entre os meses de março de 2020, quando iniciaram as restrições econômicas geradas pela pandemia, e março de 2022, o número de carteiras de trabalho assinadas no setor subiu 19,5%, e passou de 2 milhões para 2,4 milhões.

Nova perspectiva

Para os trabalhadores que conseguem emprego com carteira assinada, a maior oferta de trabalho na construção civil vem em boa hora. O haitiano Hods Rain foi contratado, em dezembro do ano passado, por uma construtora em São Paulo após trabalhar com pecuária no município de Barretos, no interior do Estado. “O dinheiro não era suficiente para ajudar a minha família. Eu tenho minha esposa em São Paulo e gastava quase 500 reais para visitá-la uma vez por mês”, diz Rain.

Além da cônjuge, o refugiado ajuda o pai e o irmão que moram na República Dominicana, de onde saiu para o Equador. O imigrante entrou no Brasil pelo Acre. Em outubro de 2014, chegou na capital paulista, onde um primo o esperava.

A empresa em que Rain trabalha tem 250 funcionários em obras. Na semana passada, seis trabalhadores que vieram de Estados do Nordeste foram contratados. Eles já tinham trabalhado na empreiteira em outras oportunidades e voltaram a São Paulo, quando a demanda por serviço aumentou.

Entre março de 2021 e março de 2022, foram lançadas 86 mil unidades imobiliárias na cidade de São Paulo, conforme os dados do Sindicato da Habitação (Secovi-SP). O número representa um aumento de 181% no número de imóveis ofertados em um ano com relação aos 12 meses anteriores.

No entanto, as construções em andamento hoje foram lançadas quando os juros baixos tornaram o financiamento mais atraente aos consumidores, o que é bem diferente da realidade atual. “Como o nosso ciclo é de cinco anos, não podemos parar de um dia para o outro porque a taxa de juros subiu. Temos muita obra para entregar, então o último que vai sair é o emprego”, afirma o CEO da REM Construtora, Renato Mauro Filho.

A alta na taxa Selic, que está em 13,25% ao ano, tende a esfriar as vendas de imóveis e os lançamentos, o que pode reduzir o crescimento de empreendimentos imobiliários e a oferta de vagas. O setor depende de juros menores para melhores condições de financiamento.

A queda no crescimento já é esperada pelos líderes empresariais. O vice-presidente institucional do Sinduscon-SP, Yorki Estefen, prevê que os lançamentos, em 2022, caiam em 4% em relação ao ano anterior. “Teremos uma desaceleração por conta da alta taxa de juros, mas os estoques vão ser consumidos neste período”, diz.

Ele destaca a força do segmento ao enfrentar os preços desregulados pela Guerra da Ucrânia e a pandemia. “O mercado está se mostrando resiliente, diante do cenário que temos.”

Para os próximos meses, o mercado torce por uma inflação dos materiais menor e para que a taxa Selic diminua. “Temos condições de superar. Se essa taxa de juros está chegando no limite, dali é só para baixo. A hora que esse juros baixar, vai ter um movimento natural de volta do consumidor.”

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