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Por que há tanta resistência ao BIM?

Uma análise das dificuldades de implantação de processo BIM nas empresas de construção imobiliária

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Diversos estudos em vários países já confirmaram a eficácia dos processos BIM, com indicações de ganhos de prazos e redução de custos acima de 5%, melhoria da acurácia de projetos e no planejamento, redução de riscos nos empreendimentos e outras vantagens. Além disso a metodologia de implantação de processo BIM hoje está consolidada e a gestão até mesmo normalizada.

Entretanto a adoção pelas empresas de construção no Brasil, em particular no segmento da indústria imobiliária segue muito lenta, com mais adesão em São Paulo e os estados ao sul, mas mesmo ali ainda bastante limitada, com ênfase em empresas que operam no MCMV. Daí surge a questão do título.

A dúvida foi agravada pelo fato de que nos últimos meses, talvez em função do início de reaquecimento de mercado, fomos procurados por algumas empresas que expressaram interesse no BIM. Porém ao tomar conhecimento de implantar BIM ia muito além de “fazer um projeto”, mas é um processo de inovação de médio e longo prazo que necessita de um planejamento específico e de investimentos em pessoal, infraestrutura e na reorganização de processos internos, invariavelmente ocorreu a desistência.

E a razão não foi uma avaliação de que o BIM não seja positivo, mas simplesmente, que “o projeto ficou caro demais”. Mas o motivo real parece um pouco mais complexo.

A justificativa apresentada na verdade deriva de outra questão, a desvinculação entre a atividade da construção e a de incorporação. A construtora, mesmo que seja associada à incorporadora, trata cada empreendimento como algo separado da incorporação. Nos estudos de viabilidade físico financeira se estabelece o preço a ser pago pela construção, frequentemente associado a uma pequena variação admissível. A partir daí se houver ganhos de prazo ou na redução de custos eles serão integralmente absorvidos pela construtora, pois a incorporação tem seus custos prefixados.

Ocorre que no BIM os ganhos derivam majoritariamente de economias na obra. O projeto BIM tem custo um pouco mais elevado que o costumeiro, pois tem conteúdo aprofundado e com maior qualidade, afora o fato que projetos comuns no Brasil são muito mal remunerados e, talvez por isso, frequentemente também sejam de má qualidade.

Ao vincular a implantação do BIM a um projeto há um erro básico: investir em BIM é uma inovação no processo de produção da construtora, o projeto realizado em processo BIM é o resultado dessa inovação.  A apropriação de benefícios do uso do BIM é na sua imensa maioria durante a obra e no uso da edificação e durante as obras seguintes. Os benefícios na etapa de concepção são menores, ainda que muito relevantes. Mas os ganhos para a organização serão permanentes. Por exemplo, o uso de ferramentas de verificação de conflitos melhora a qualidade do projeto em questão, mas incorporar este procedimento ao processo regular de projeto é um benefício permanente para a organização.

Assim sendo a amortização do investimento para implantação do BIM deve ser responsabilidade, neste caso, da construtora e não atribuído a um empreendimento único. Que a médio e longo prazo vai usufruir de uma vantagem competitiva importante, pois sua acurácia de planejamento será maior, com maiores possibilidades de rentabilidade, em particular enquanto as demais construtoras não atingirem o seu patamar de desempenho derivado do uso do BIM.

Percebe-se que a resistência à adoção do BIM deriva do modelo de negócio entre construtora e incorporadora e a uma boa dose de conservadorismo de ambos. Enquanto for possível obter rentabilidade no que está estabelecido, porque mudar? Neste quadro duas questões devem ser avaliadas, a primeira é se a construtora vai continuar sendo competitiva à medida que os concorrentes adotarem BIM. A segunda é se a incorporadora não deveria alterar seu modelo de contratação da obra de modo que também possa participar dos ganhos potenciais e desse modo melhorar sua própria competitividade.

O uso bem-sucedido do BIM por empresas que operam no MCMV parece contribuir para a razoabilidade dessa lógica, pois neste mercado o fundamental é produtividade e qualidade de serviço. Por isso algumas empresas desse segmento abraçaram o BIM com maior entusiasmo. Resta saber quando elas levarão sua expertise para outros mercados, talvez então ameaçando empresas mais tradicionais.

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