fbpx
Início Mercado Economia Falta de mão de obra e insumos ameaça investimento bilionário em rodovias

Falta de mão de obra e insumos ameaça investimento bilionário em rodovias

Previsão de investimento para a malha federal inclui participação do setor privado

0
Desde dezembro de 2017, a Régis Bittencourt é uma rodovia totalmente em pista dupla, com o término da duplicação da Serra do Cafezal na região de Miracatu-SP.

Rafael Bitencourt, Valor Econômico – O investimento nas rodovias federais pode alcançar R$ 30 bilhões em 2023, somando o aporte do governo federal em obras públicas e recursos aplicados nas estradas concedidas à iniciativa privada. Com grande volume de obras, após período de estagnação causado pela desaceleração da economia e efeitos da pandemia, o setor monitora os riscos de gargalos com a falta de profissionais qualificados e escassez de insumos.

A maior parte dos investimentos, quase R$ 20 bilhões, virá do orçamento do Ministério dos Transportes. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) tem a missão de contratar empreiteiras para realizar a recuperação e conservação da malha rodoviária que administra.

A conta tem ainda outros R$ 11 bilhões que grandes grupos de concessionárias planejam investir neste ano, estima a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR). Este montante, que abrange as rodovias ligadas à entidade, supera o valor histórico alcançado há dez anos de R$ 10,7 bilhões.

A alta demanda por insumos e mão de obra parte especialmente de 17 contratos celebrados no triênio 2020-2022. Sete são de concessões federais com prazo de 30 anos que somam investimentos de R$ 48,8 bilhões, parte importante concentrada nos primeiros anos. Outras dez contratações são de obras públicas voltadas para duplicação de corredores viários considerados estratégicos para o país.

O presidente da ABCR, Marco Aurélio Barcelos, ressalta que, no fundo, o país está diante de uma “notícia excelente”, com a chance de atingir o “ápice de investimento privado” em rodovias na série histórica do últimos dez anos associada a um novo “paradigma orçamentário” do Ministério dos Transportes que “há muito tempo não se via”.

Barcelos, porém, avalia que o atual quadro de investimentos requer uma ponderação. “Sem querer trazer um tom alarmista, será que o ecossistema que sustenta esse investimento está preparado? Talvez precisemos de alguma avaliação do poder público e do próprio setor privado sobre a real capacidade de entrega”, disse.

Concessionárias associadas à ABCR já relatam enfrentar dificuldades de contratar projetistas e consultorias especializadas. Para contornar o problema, as gestoras de rodovias estão antecipando a ida ao mercado, enquanto existe disponibilidade, para garantir a contratação.

Barcelos defende que o momento atual é de identificar os possíveis gargalos e pensar em “medidas de apoio e fomento” para superá-los. O executivo mencionou que talvez seja o caso de avaliar a necessidade de linhas de crédito para áreas específicas ou buscar articulação do setor público, no nível federal e estadual, para “racionalizar” a agenda de investimentos.

“Não queremos puxar o freio de mão, mas a gente precisa fazer essa reflexão: que medidas podem ser tomadas para nos antecipar, evitar que gargalos em alguns setores, entre os prestadores de serviço, se materializem?”, destacou.

Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), admitiu que o risco para o setor de rodovias já foi notado pela entidade, que fará workshop na sexta-feira (30) para discutir o problema com integrantes do governo e representantes da cadeia de fornecimento de bens e serviços.

Tadini afirmou que desde o ano passado a Abdib tem alertado autoridades públicas sobre como a elevação de preços dos insumos afeta o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos de concessão. Ele lembra que o setor pagou caro não só pelos produtos asfálticos, devido à alta do preço do petróleo, mas também pela “elevação significativa” dos custos de itens básicos da construção civil, como aço, cimento e areia.

Para ele, a organização da força de trabalho em todo mundo mudou na pandemia impondo dificuldades para a indústria e para a construção civil: “O Brasil chegou a quase 14% de desemprego no auge da pandemia. Essas pessoas não ficaram durante dois anos em casa esperando para voltar para aquele emprego que elas tinham. As pessoas se recolocaram em atividades distintas.”

O presidente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), Joaquim Maia, defende que a retomada mais forte dos investimentos em alguns setores da economia precisa estar apoiada em programas de qualificação profissional: “Estamos falando de mais de cem categorias profissionais para a execução de qualquer empreendimento de infraestrutura. São profissionais com diferentes níveis de especialização que estão envolvidos no processo como um todo, desde o projeto até a entrega da obra.”

Questionado, o Ministério dos Transportes disse que “está atento a todas as movimentações de mercado” e que a retomada de investimento tem “consequências na cadeia produtiva”. A pasta ressaltou inclusive que criou um grupo de trabalho com a Petrobras e o Dnit, em fevereiro, para monitorar o suprimento de asfalto.

Receba por email, os melhores conteúdos da semana sobre Construção!