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Trincas ou Fissuras: novas tecnologias recomendadas (parte 2)

Como se originam, quais os tipos, as causas e as novas tecnologias recomendadas nas recuperações de fissuras.

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O aparecimento de fissuras em argamassas de revestimento, na maioria das vezes, é consequência das variações dimensionais a elas impostas pelos elementos de vedação (ações externas) ou da própria argamassa (ações internas).

No artigo anterior falamos sobre as formas de classificação das fissuras quanto à abertura, ao aspecto visual e ao mecanismo de formação. Neste artigo, classificaremos às fissuras quanto à forma e à atividade e passaremos a comentar as origens dos principais mecanismos de formação de fissuras.

Classificação das fissuras

A classificação das fissuras é muito importante para se definir o método de recuperação das mesmas. Assim, podem ser classificadas:

  • Quanto à forma: geométricas ou mapeadas;
  • Quanto à atividade: ativas ou passivas.

Fissuras geométricas ou isoladas

Essas fissuras podem atingir tanto os elementos de alvenaria (blocos e tijolos), quanto às juntas de assentamento dos mesmos (Figura 1). Quando verticais, podem ser devidas à retração higrotérmica do componente na interface entre a alvenaria e a estrutura (detalhe “A”) ou nos locais onde deveriam ter sido previstas juntas (detalhe “B”). Neste caso, podem romper ou não os elementos de alvenaria.

Figura 1 – Fissuras Geométricas ou Isoladas (ELDRIDGE [1]).

Quando horizontais, nos topos das edificações, são decorrentes de movimentações térmicas diferenciadas entre a platibanda e a laje de cobertura (Figura 2) ou de destacamento da argamassa de topo das platibandas causado pela absorção de umidade (Figura 3); junto à base das alvenarias, podem ser decorrentes da umidade ascendente do solo (Figura 4).

Figura 2 – Fissuração por movimentação térmica diferenciada entre a platibanda e laje de cobertura (autor).
Figura 3 – Fissura de destacamento da argamassa de topo das platibandas causado pela absorção de umidade (autor).
Figura 4 – Fissura por ascensão capilar, através das fundações e/ou paredes, da água existente no solo (Thomaz [2]).

Fissuras mapeadas ou disseminadas

As fissuras mapeadas podem formar-se por retração das argamassas, por excesso de finos no traço, quer sejam de ligantes, quer sejam de finos no agregado, ou por excesso de desempenamento, conforme a NBR 13749 [3]. Geralmente, sua forma típica é em forma de mapa e frequentemente são superficiais (Figura 5), contudo, recentemente devido ao excesso de finos e ligantes, principalmente de cimento nas argamassas industrializadas, e a falta de cura, tem-se observados outros tipos de configurações, mas ainda resultante da retração das argamassas, conforme Figura 6.

Figura 5 – Fissuras Mapeadas ou Disseminadas (autor).
Figura 6 – Fissuras típicas da retração das argamassas (autor).

Fissuras ativas ou vivas

São aquelas que apresentam variações sensíveis de abertura e fechamento. Se estas variações oscilam em torno de um valor médio (oscilantes) e podem ser correlacionadas com a variação de temperatura e umidade (sazonais), então as fissuras, embora ativas, não indicam ocorrência de problemas estruturais. Se tenderem a apresentar uma abertura sempre crescente (progressivas), podem representar problemas de fundação ou das estruturas (sobrecargas ou deformações), que devem ser corrigidos antes do tratamento das fissuras – as causas desses problemas devem ser determinadas através de observações e análise da edificação, conforme Figuras 7 e 8.

Figura 7 – Fissura típica do recalque diferencial da fundação (à esquerda, Thomaz [2]; à direita, autor).
Figura 8 – Fissuras típicas de sobrecargas das estruturas de concreto (observa-se a concentração de fissura ao redor das aberturas de janelas (Thomaz [2]).

Fissuras passivas ou mortas

São causadas por solicitações que não apresentam variações sensíveis ao longo do tempo. Podem ser consideradas estabilizadas.

Origem da formação das fissuras

O aparecimento de fissuras em argamassas de revestimento, na maioria das vezes, é consequência das variações dimensionais a elas impostas pelos elementos de vedação (ações externas) ou da própria argamassa (ações internas).

De acordo com ELDRIDGE [1] e LOGEAIS [4], a situação mais comumente observada é que a fissura do revestimento ocorra em virtude da própria fissuração do elemento de vedação, isto é, a fissuração do revestimento é consequência da fissuração da base.

A Figura 9 (a) ilustra as fissuras decorrentes de deformações da base que normalmente são de grande amplitude (SABBATINI et al. (1988) apud LORDSLEEM JR. [5]) e as decorrentes da interface entre a base e a argamassa de revestimento, que são de difícil detecção.

Figura 9 – Fissuras decorrentes: (a) da deformação da base; (b) de falhas de aderência da argamassa com a base.

As fissuras em argamassas de revestimento irão depender, sobretudo, do seu módulo de deformação (rigidez) e da sua capacidade para absorver as deformações impostas pelo substrato.

Sabe-se que os revestimentos são compostos por diferentes camadas de materiais intimamente ligados ou aderidos e a deformação em uma dessas camadas, provocará o surgimento de tensões em todo o conjunto (FIORITO [6]).

As tensões são tanto maiores, quanto maior for a ocorrência de esforços cíclicos, que vão provocando danos progressivos ao revestimento. A ocorrência destes esforços como molhagem/secagem, gradientes térmicos e deformações na estrutura, geram microfissuras na argamassa, na base e, no pior caso, na interface entre estas duas camadas, conforme se observa na Figura 9 (b) (JOHN [7]).

Assim, a velocidade de propagação do dano nas argamassas de revestimento ou da formação de fissuras acompanhado do seu descolamento é função direta da magnitude das tensões de cisalhamento, que por sua vez depende da sua espessura e do seu módulo de deformação, da existência de vazios na interface argamassa/base, que depende da extensão de aderência, da dosagem e da aplicação da argamassa e da resistência à fissuração da argamassa, que por sua vez depende da sua menor retração e maior resistência à tração (JOHN [7]; VEIGA [8]).

As argamassas também estão sujeitas a ações internas a elas, tais como a retração de secagem e alterações químicas dos materiais utilizados para sua elaboração. Os efeitos físicos nocivos destas ações são relatados como o aumento na porosidade e permeabilidade, diminuição na resistência, fissuração e destacamento do revestimento.

Na Tabela 1, apresentamos um resumo das principais causas de fissuração nos sistemas de vedação.

Tabela 1 – Classificação das principais causas de fissuração em sistemas de vedação (Adaptado de Silva [9]).

No próximo artigo, passaremos a comentar sobre os Sistemas de Recuperação de Fissuras (SRF), suas partes, características, materiais e tecnologia de execução.

Bibliografia

[1] ELDRIDGE, H.J. Common defects in buildings. London, Crown, 1982.

[2] THOMAZ, E. Trincas em edifícios: causas, prevenção e recuperação. São Paulo: Pini/IPT/EPUSP, 1989

[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13749: Revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas – Especificação. Rio de Janeiro, 2013.

[4] LOGEAIS, L. L’etancheite a l’eau des facades lourdes. Paris, E.G., 1989. (Qualité Construction).

[5] LORDSLEEM Jr., A.C. Sistemas de recuperação de fissuras da alvenaria de vedação: avaliação da capacidade de deformação. São Paulo, 1997. 174p. Dissertação (mestrado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

[6] FIORITO, A.J.S.I. Manual de argamassas e revestimentos – estudos e procedimentos de execução. São Paulo: Pini, 1994.

[7] JOHN, V.M. Repensando o papel da cal hidratada nas argamassas. In: IV SIMPÓSIO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DAS ARGAMASSAS, 2003, São Paulo. Anais…, São Paulo: EPUSP-PCC/ANTAC. 2003, v.1, p. 47-62.

[8] VEIGA, M.R. Comportamento de argamassas de revestimento de paredes. In: V SIMPÓSIO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DAS ARGAMASSAS, 2003, São Paulo. Anais…, São Paulo: EPUSP-PCC/ANTAC. 2003, v.1, p. 63-93.

[9] SILVA, J.M. Alvenarias não estruturais: patologias e estratégias de reabilitação. In: SEMINÁRIO SOBRE PAREDES DE ALVENARIA. Anais… Porto, P.B. Lourenço & H. Sousa (Eds.), 2002, p. 187-206.

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Eng.º Civil pela Universidade Paulista (UNIP) em 1993. Pós graduação em materiais de construção pela Escola Politécnica da USP (1996). Mestre em Tecnologia de Construção de Edifícios pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo) em 2005. Há 26 anos atua como Consultor em Patologia de Concreto e Revestimentos. Professor de pós-graduação pelo INBEC/UNIP, Universidade Presbiteriana Mackenzie e Educ.Eng/CREA-ES nas cadeiras de Vedações, Revestimentos e Sistemas de Recuperação. Palestrante por diversas instituições e in-company para construtoras é autor de artigos técnicos junto a revista Téchne da Editora Pini e a AECweb e Co-autor do Manual de Selantes para Fachadas elaborado pelo Consórcio Habitare/Caixa. Membro da Comissão de Norma CE-002:109.010 da ABNT/CB-002 - Comissão de Estudo de Placas Cerâmicas: Procedimento e Execução e Membro da Comissão de Norma CE 018:400.004 da ABNT/CB-002 - Comissão de Estudos de Argamassas de Assentamento e Revestimento.

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