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Construção modular: como a China ergueu um hospital em 10 dias?

Apesar do impacto de erguer e colocar em operação um hospital gigante muito rapidamente, para quem conhece as áreas de conhecimento mencionadas, não se trata de nenhuma surpresa, em termos de tecnologia

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Houve, sem dúvida, uma “operação de guerra” e um tremendo esforço e energia colocados no planejamento da logística, fabricação e montagem do novo complexo hospitalar recém inaugurado. Sim, trata-se de uma edificação com elevado percentual de industrialização, utilizando a construção modular.

Um amigo, consultor de primeira grandeza, palestrante e escritor de vários livros, por quem tenho grande admiração, o César Souza, me provocou ontem para escrever sobre este assunto e, também, abordar o tema da construção modular.

O tema tem chamado a atenção do setor de engenharia e construção e também de uma grande quantidade de pessoas, através das matérias e vídeos divulgados pela mídia, uma vez que a obra do hospital Wuhan Volcan, realizada em apenas 10 dias de trabalho ininterrupto numa área de 34.000 m², teve como motivação a necessidade atender a emergência de saúde pública chinesa, por conta do Coronavírus. Na verdade, são dois hospitais, sendo um para 1.000 leitos e outro para 1.600 leitos.

Tenho escrito sobre pré-construção, fast-track construction e construção modular. Pois bem, o projeto e a “construção” deste hospital decorre do uso “orquestrado” destas áreas de conhecimento da engenharia. Apesar do impacto de erguer e colocar em operação um hospital gigante muito rapidamente, para quem conhece as áreas de conhecimento mencionadas, não se trata de nenhuma surpresa, em termos de tecnologia.

Também na China foi edificado em 2003, em apenas 7 dias, o hospital de Xiaotangshan, em Pequim, durante a epidemia Sars. Este hospital tem o mesmo conceito e tipologia do hospital Wuhan Volcan.

O vídeo deste link mostra a obra, que começou com um radier (fundação rasa), já que a edificação é razoavelmente leve e horizontalizada, sobre o qual foram montados os módulos.

Quando se diz que a “construção” durou somente 10 dias, a interpretação correta é que a execução do radier, serviços paralelos de drenagem, infraestrutura e a montagem dos módulos ocorreu em 10 dias.

Na realidade foram utilizados módulos pré-fabricados, que já estavam prontos, com todos os acabamentos, revestimentos, caixilhos e instalações (“construção” off-site). A montagem, portanto, lançou a estrutura metálica com conexões parafusadas e empilhou os módulos prontos, interligando as instalações entre eles e com a infraestrutura. Utilizou-se uma quantidade enorme de guindastes para atender o prazo curto de montagem e entrega do hospital para o início da operação.

Cabe destacar algumas contribuições de cada área de conhecimento mencionada, para este empreendimento:

Pré-construção:

  • Desenvolvimento das melhores soluções de engenharia e projeto, antecipando incertezas e desafiando o prazo e o custo, conforme metas previamente estipuladas (target costing);
  • Identificação de oportunidades para a redução de custo e prazo, de forma dinâmica, ao longo do desenvolvimento do projeto;
  • Definição, desenvolvimento e detalhamento do sistema construtivo;
  • Alinhamento da Cadeia de Valor e planejamento da logística, suprimento e ainda, da operação de fabricação dos módulos (off-site) e da montagem dos mesmos no canteiro de obras (on-site);
  • Análise de riscos do projeto e definição de formas de eliminá-los, mitigá-los ou minimizá-los;
  • Garantia da integridade da produção.

Fast construction:

  • Estudo dos processos e detalhes construtivos para a aceleração das atividades relacionadas à produção;
  • Gestão e sincronização da logística e suprimento, para garantir fluidez no trabalho de construção e montagem;
  • Aplicação de paralelismo nas atividades, de forma a permitir a compactação do tempo total de construção.

Construção modular:

  • Concentração máxima de atividades de fabricação sob processos e ambiente controlado, dando velocidade à produção (off-site);
  • Produção em fábrica, em ambiente mais seguro para trabalhar, com processos e procedimentos estruturados, menor nível de ruído e de poluição do ar, com impacto direto na diminuição do risco de acidentes;
  • Potencial significativo de economia gerada em relação à construção tradicional, através de processos de fabricação e montagem automatizados e mecanizados e ainda, explorando máxima eficácia e os benefícios da economia de escala;
  • Melhor qualidade, durabilidade e desempenho, em decorrência do emprego de processos industriais com tolerâncias rígidas;
  • Também é importante destacar que as questões de regulamentação e legislação na China são diferentes das brasileiras. Sem entrar em detalhes, sobretudo no que tange à segurança, há menos barreiras e travas, o que certamente permite a redução de algumas etapas e agilização da construção.

Quero enfatizar que esta análise rápida merece aprofundamento e que um benchmark seria muito bem-vindo. Dado o momento delicado e a necessidade de dar suporte à população, por conta desta grave epidemia que lamentavelmente se alastra, é elogiável o empenho, o senso de urgência e a velocidade de resposta dos chineses para a rápida edificação do hospital Wuhan Volcan. Temos neste caso uma importante lição a aprender.

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