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Paulo Mancio – O inovador chief design officer da Accor

Imerso no mundo dinâmico das startups, Paulo Mancio, Sênior Vice-Presidente de Design do Grupo Accor, é expoente de um novo perfil de líder, que conjuga interesses múltiplos – em que não podem faltar sustentabilidade, esg e o cosmos high-tech

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O maior exemplo é que Mancio agora tem envolvimento intenso com startups e faz parte do conselho consultivo de grandes instituições no Brasil (são sete, no total), associando seu prestígio a essas empresas, nas quais contribui tanto com networking – abrindo portas para quem precisa de um bom contato – quanto na parte estratégica.

Por Alexandre Carvalho, Revista Empresário Digital. Se você perguntar a Paulo Mancio, vice-presidente sênior de Design & Implantação para América Latina da Accor, qual foi seu grande sonho na vida, a resposta pode surpreender: ser um atleta olímpico. Para muita gente, é o mesmo que ter o desejo irrealizável de ser astronauta. Só que quem conhece a multiplicidade (e a relevância) de atividades nas quais esse executivo se envolve já sabe que sonho, para Paulo, é algo de que a gente deve ir atrás. Tem dúvida? Paulo Mancio integrou, de fato, a equipe brasileira de hipismo e participou das seletivas para uma Olimpíada. Só não foi aos Jogos porque teve um acidente que olesionou.

Isso é só uma pequena amostra de uma personalidade que conjuga resiliência, espírito competitivo, criatividade e, principalmente, uma mentalidade inovadora. É a inovação que está na base de todos os seus negócios – e não são poucos.

Foi essa inspiração que o levou ao centro de transformações digitais que modernizaram a imagem da rede Accor. E que o projetou a um universo que vai muito além dessa atividade na alta gestão de uma das marcas mais conhecidas do mundo no segmento de hotelaria.

O maior exemplo é que Mancio agora tem envolvimento intenso com startups e faz parte do conselho consultivo de grandes instituições no Brasil (são sete, no total), associando seu prestígio a essas empresas, nas quais contribui tanto com networking – abrindo portas para quem precisa de um bom contato – quanto na parte estratégica. Entre as startups, destaca-se o Grupo BR Angels, dedicado ao investimento-anjo. Aliás, falando em tecnologia de ponta, Paulo também virou sócio de uma startup que oferece experiências em realidade aumentada, a Flex Interativa.

Sempre na vanguarda, sempre inovando.

E ele não para por aí: tem forte participação em entidades que abraçam temas relacionados a sustentabilidade, ESG e smart city. É conselheiro-diretor da ONG Green Building Council e também do World Trade Center de Curitiba, na cadeira de smart cities e ainda um apaixonado por Educação.

As pistas estão nesta entrevista exclusiva, para a reportagem da Revista Empresário Digital.

EMPRESÁRIO DIGITAL – Como é sua atuação como vice-presidente sênior de Design & Implantação para América Latina da Accor?

PAULO MANCIO – Na Accor atuo em três grandes pilares: design, construção e sustentabilidade técnica. Meu trabalho é fazer a gestão da identidade desses hotéis, onde temos o privilégio de contar com uma escola de arquitetura brasileira forte e cheia de personalidade. Vale ressaltar que a Accor percebeu há bastante tempo o impacto positivo do design aplicado nos hotéis, ou seja, do ato de revolucionar as experiências dos hóspedes – da mesma forma que empresas revolucionárias, como a Apple, desenvolveu a percepção que investir massivamente em design alcança resultados diferenciados, seja no valor das suas ações ou na própria vivência do cliente.

ED – Como foi o processo de personalização do design da Accor no mundo?

PAULO MANCIO – Quando iniciei minha carreira na Accor, o design dos produtos que eram elaborados aqui na América do Sul, Cidade do México, África, ou até mesmo na Europa ou em qualquer outra unidade, era sempre igual. Isso fazia com que fôssemos identificados com facilidade em qualquer lugar do mundo, e nós tínhamos orgulho disso. A mentalidade era de que o Ibis seria como o “McDonald’s da hotelaria”, e o cliente sempre saberia o que esperar do nosso design. Tudo seguiu assim, até que percebemos que as pessoas e a sociedade estão cada vez mais únicas: cada um quer ter sua personalidade, quer construir seu próprio avatar, quer destacar-se de uma maneira diferente. Então não fazia sentido, aqui em São Paulo ou em Salvador, termos um design com suas raízes na Europa. Sem deixar de admirar os bons conceitos de design que vêm do exterior, atualmente preferimos aqueles que se aproximam mais da nossa realidade. A partir daí, fomos autorizados a criar um design brasileiro, latino, sul-americano. Eu “pilotei”, então, um concurso de design do conceito Ibis. Um escritório de São Paulo ganhou, e posso dizer que nós ganhamos, pois o projeto ficou tão espetacular que conquistamos o maior prêmio de design do mundo. Fui receber essa premiação na sede da Unesco, em Paris, e ao meu lado estava o vice-presidente da Apple, também premiado. Isso prova o quão inteligente foi a decisão de regionalizar o design. Conseguimos trazer lifestyle para dentro da hotelaria, transformando esses espaços com as características do Brasil.

ED – Você teve a missão de conduzir uma renovação na Accor. Conte-nos sobre essa experiência.

PAULO MANCIO – Uma das coisas que viemos trabalhando muito, em todo os mercados, é a reinvenção. A Accor passou por um momento bastante agudo e complicado, como várias indústrias, tendo sido muito impactada com a pandemia. Em função disso, estamos implementando uma grande reconstrução da marca e da nossa imagem, que passa profundamente por dois caminhos, sendo que o primeiro é a transformação digital. A Accor incorporou uma plataforma digital cujo front office é um espaço de relacionamento no qual o cliente pode interagir de acordo com todas as suas necessidades para viajar – vai desde a parte dos planos de fidelidade, passando pelo booking, até o suporte, quando há intenção de alugar um carro, por exemplo. Parte dela já está entregue ao mercado e outra está permanentemente sendo aprimorada.

ED – Você comentou que é um apaixonado por Educação e por lecionar, poderia nos contar mais sobre?

PAULO MANCIO – Claro, realmente há 10 anos comecei a dar aulas e compartilhar tudo que aprendi na minha vida acadêmica e profissional. Neste momento estou também trabalhando em conjunto com a Construliga, uma startup que desenvolve conexões e negócios no setor da Construção Civil, para o lançamento ainda este ano de um curso sobre o universo da hospedagem. Entendemos que o mercado está mudando muito, bem como os hábitos e preferências das pessoas que buscam uma experiência mais real ao se hospedar em um hotel, hostel, pousada ou até mesmo um modelo Airbnb. É muito importante capacitar as novas gerações de profissionais envolvidos neste “mercado tão poderoso”.

ED – Quais estratégias da Accor para lidar com as condições impostas pela pandemia do Covid-19?

PAULO MANCIO – Foram algumas e eu destaco quatro, as principais soluções em encontrar novas atividades relacionadas às nossas unidades. No modelo de negócios da Accor, não somos proprietários dos imóveis, somos operadores; então foi fundamental criar uma solução para os hóspedes e nossos clientes proprietários. Criamos o room office: excluímos a cama do apartamento e criamos um espaço de trabalho para a pessoa que não deseja mais ficar trabalhando em casa, com todas as distrações do lar. Ali, essa pessoa passou a ter um espaço fechado, seguro, com um bom banheiro, móveis ergonômicos, internet de qualidade e, claro, uma ótima cafeteira. Outra solução foi rentabilizar nossas cozinhas, que estavam em stand-by por falta de hóspedes, e aderimos às plataformas de deliveries. Uma terceira solução é que todo hotel da Accor já podia ser um coworking – um espaço de trabalho em que a pessoa pode contar com restaurante, bar e outras facilidades que só um hotel pode oferecer. E, por fim, a quarta solução, ainda em desenvolvimento, que é a utilização das garagens vazias para fazer storage.

ED – Neste segundo semestre de 2021, qual o status de ocupação dos hotéis brasileiros?

PAULO MANCIO – O que deixava as unidades lotadas era a hotelaria de negócios. Com o enxugamento da atividade econômica, eles tiveram uma queda muito grande em suas ocupações. Por outro lado, hotéis que não tinham ocupação alta com perfil de lazer agora estão com taxas altíssimas, e isso é muito bom para o turismo doméstico.

ED – Gestão inovadora tem sido um diferencial para a saúde do setor hoteleiro?

PAULO MANCIO – Fato. Tem sido essencial nos últimos cinco anos, e será nos próximos também. O mundo está cada vez mais dinâmico, a normalidade das atividades no setor hoteleiro está diretamente ligada ao fator vacina. Voltaremos ao normal depois da vacinação em grande escala. Até lá, precisamos de novas ideias na gestão para lidar com a situação da melhor forma possível.

ED – Além do seu trabalho na Accor, você atua em alguns empreendimentos ousados. E o mais novo diz respeito à realidade aumentada. Conte-nos mais sobre isso.

PAULO MANCIO – Tenho uma grande amizade com o Fernando Godoy, que é um empreendedor serial e CEO da startup que eu já admirava, a Flex Interativa. Essa startup virou a queridinha do mercado, e já tem grande possibilidade de tornar-se um novo fenômeno brasileiro entre as startups “unicórnio”. Acabei me envolvendo em suas atividades e hoje faço parte do quadro societário, e no conselho consultivo. Atuando na área estratégica, ou seja, no crescimento da empresa e das negociações sobre as novas rodadas. A Flex é uma empresa pequena e de decisões rápidas. A proposta é criar soluções para os clientes por meio da realidade aumentada, que de forma resumida acontece quando você entra em uma loja e é atendido por um avatar, por exemplo. Há uma solução, desenvolvida pela Flex, que é uma aula gamificada para o Cel.Lep, a escola de inglês. Os alunos têm aulas 100% digitais e animadas. A Flex também tem um contrato com uma grande rádio do Brasil para fazer um programa, pelo qual você consegue interagir de qualquer lugar do mundo.

ED – Como será a sua atuação na startup?

PAULO MANCIO – Concluímos essa parceria em Fevereiro de 2021 visando agregar a minha experiência como executivo da Accor. A expertise que estou levando passa por dois pontos principais: um de fazer uma abertura comercial, e outro, vertical, que é mais como coaching, em uma área mais específica, relacionada às finanças, vendas e uma parte digital. Hoje existem muitas startups que são estruturadas e que têm um produto muito bom, mas não têm expertise para desenvolver o comercial. É nesse aspecto que contribuirei, e estou muito entusiasmado com esse novo desafio.

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